Do Brasil filipino ao Brasil de 1640

modo, a sobrevivência do seu Império. A Espanha atingira o termo da sua hegemonia europeia, e outras nações surgiam a disputar os seus interesses ultramarinos.

Desta sorte, encarando a Administração espanhola no que respeita ao governo do Brasil, podem admitir-se dois períodos: o que engloba os reinados de Filipe II e Filipe III, até cerca de 1625, em que se manteve o ritmo de crescimento da terra, com base numa legislação mais ou menos atenta; e o de Filipe IV, que se traduz numa quebra de ação legislativa e na patente fraqueza do poder real, na carência de uma dinâmica de governo, o que explica, em grande parte, a ocupação e o triunfo dos holandeses nas capitanias do Nordeste. Por tal motivo, quando os historiadores censuram a Administração dos Filipes por ter descurado o governo das partes do Brasil, a crítica torna-se apenas válida quanto à derradeira fase da realeza filipina, com mais rigor, à atuação política de Filipe IV. Mas não se olvide que, durante esse período, a quebra ultramarina da Espanha se verificou noutros domínios, pois o seu Império sofreu os graves efeitos que a Guerra dos Trinta Anos ia produzindo no tesouro — agora exausto — da que fora a maior potência da Europa. Ou não surgisse a crise na época em que as minas da América deixaram de abastecer a Espanha de tanta riqueza metálica, surgindo o espectro da "fome monetária" de que a Península Ibérica, ao redor de 1630, veio a ser a maior vítima.

Não se mantenha, pois, o fantasma da "decadência" do Brasil, nas seis décadas do domínio espanhol em Portugal. Já

o belo espírito, que foi Jaime Cortesão, viu no início do século XVII a época dourada dos portos do reino, devido sobretudo ao comércio com aquele Estado; e o historiador francês Frédéric Mauro pôde localizar, durante esse período, a fase de apogeu da economia do açúcar brasileiro. De 1580 a 1640 conseguiu-se a fixação de centenas de portugueses, que ali foram criar novos aglomerados; ativou-se a vida econômica com linhas de expansão comercial, mormente no que respeita à cana sacarina e ao pau-brasil; a administração pública e as estruturas municipais completaram-se; e o homem português não deixou de buscar os tesouros do Brasil, no desbravamento da selva ignota.

Foi durante esse tempo que começaram as grandes penetrações no interior, com as "entradas" e "bandeiras" com que se procurava vencer os mistérios da Natureza: o descobrimento de novas riquezas, a captação de tribos indígenas, o alargamento

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