Do Brasil filipino ao Brasil de 1640

das fronteiras. Zonas ignoradas do sertão abrem-se então para o mundo. Ao longo dos rios, vencendo a agrura dos caminhos e as intempéries, esses heróis da selva ajudaram a desbravar a natureza do Brasil. Foi assim que a Amazônia se aproximou do litoral, graças ao esforço de tantos pioneiros que fazem parte da história anônima da formação do Brasil. E os nomes de Gabriel Soares, de Pero Coelho de Sousa e de Antônio Raposo Tavares — este bem exaltado pela magnífica pena de Jaime Cortesão — puderam impor-se como o símbolo autêntico do abraço entre o homem português e a terra brasileira.

Uma outra conclusão ressalta destas páginas. Apesar do contributo positivo da obra governativa dos Filipes, o Brasil de 1580 a 1640 foi, sobretudo, marcado pelo esforço colonizador do português. As leis, as estruturas políticas e a ação de um governo têm seu valor histórico na formação de um Estado; mas o que mais conta para o futuro, nos quadros da história real, é a presença humana que lhe assegura a continuidade da língua, da raça e dos valores do espírito. Como a árvore que alarga suas copas em troncos da mesma raiz poderosa, o Brasil de 1640 também se considera mais vinculado às suas origens pela obra de criação humana que o português ali soube fixar. Por isso, quando surgiu o movimento da Restauração, o Brasil seguiu o caminho que a história lhe traçava; e a expulsão dos holandeses, em 1654, apenas se compreende perante uma realidade cultural: o apego dos portugueses do Brasil à pátria distante e de destino comum.

Não se pretenda ver nesta obra uma história completa do Brasil português, entre 1580 e 1640. A um pensamento tão exigente não podia aspirar o autor. Trata-se apenas de uma perspectiva global desse período, que quisemos esclarecer à luz dos Arquivos e da bibliografia portugueses. A pesquisa não poderia ser de caráter exaustivo, tendo somente em conta os principais fundos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, da Biblioteca Nacional de Lisboa, do Arquivo Histórico Ultramarino, da Biblioteca Pública de Évora e da Biblioteca da Ajuda. Por tal motivo, não houve a preocupação de citar toda a bibliografia impressa, mesmo a mais valiosa da atual historiografia do Brasil, que somente referimos quando as fontes se acham já publicadas; nem foi nosso desejo sobrecarregar o texto com notas infrapaginais, para não fatigar o leitor com um aparato demasiado erudito. , Para o traçado mais correto da matéria — e

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