Do Brasil filipino ao Brasil de 1640

Achou-se ainda conveniente que o navio partisse durante o mês de outubro, a fim de o mensageiro poder correr as várias capitanias e nelas entregar as cartas do monarca com notícia da aclamação; e logo que chegasse ao Brasil, deveria o enviado régio, com os vários capitães, "fazer o officio que requere a callidade da materia, com todo o bom tento e modestia, e algumas palauras da parte, de sua Magestade que os obriguem pretendendo o bom effeito do neguoceo a que vai” (4) Nota do Autor.

Conclui-se da leitura do documento que a aclamação no Brasil constituía um problema delicado para os conselheiros de Filipe II, que por tal motivo aconselhava a negociação particular entre o portador da notícia e os capitães donatários. Era governador da província, ao tempo, o fidalgo Lourenço da Veiga, que fora nomeado para o cargo em 12 de abril de 1577, ainda no reinado de D. Sebastião (5) Nota do Autor. Homem afeito à carreira das armas, com larga folha de serviços como capitão no norte de África e de frotas no Atlântico, gozava de prestígio na Corte e pudera manter-se no cargo durante o governo do Cardeal-rei. Lourenço da Veiga tinha fama de português antigo, tudo levando a supor que era contrário à solução espanhola do pleito dinástico, ainda que seu irmão Tristão Vaz da Veiga, comandante do forte de S. Julião da Barra, fosse um dos primeiros nobres a render-se ao duque de Alba e a aceitar a realeza de Filipe II (6) Nota do Autor.

A "lembrança" para o portador se avistar com os vários Capitães do Brasil constitui a prova evidente de que o governador geral Lourenço da Veiga não era considerado uma pessoa de confiança pela Corte do novo monarca. A suspeita parece ter fundamento, pois Frei Vicente do Salvador considera-o um português de lei e atribui mesmo a sua morte, ocorrida no Salvador em junho de 1581, ao desgosto que lhe teria causado a notícia da perda da Independência e a conduta menos patriótica que seu irmão mostrou na triste emergência (7) Nota do Autor. Mas no que respeita à esfera de atuação do mensageiro, Filipe II não estava de acordo com a "lembrança", e propunha que não se

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