Assim se levanta um problema histórico: teria D. Antônio cedido à Rainha-mãe os seus direitos sobre a terra do Brasil, em troca do auxílio material da França, para ser reposto no trono de Portugal? Houve, com efeito, uma "venda" do Brasil à Coroa francesa?
O Brasil não foi vendido à França
Desde os primeiros anos do século XVII que os autores têm insistido nessa "verdade" histórica. Ora, tal corrente de opinião, por carência de provas históricas, merece ser rebatida.
Foi no ano de 1608 que saiu dos prelos de Paris a obra de H. T. S. de Torsay sobre a vida do almirante Strozzi (16) Nota do Autor. Dado que o autor desempenhara as funções de secretário do seu biografado, esse texto passou a ser tido como a fonte mais completa para o estudo dos fastos militares de Strozzi, além de se impor como testemunho autêntico no quadro histórico do reinado de Catarina de Médicis. Ao mencionar os preparativos da expedição dos Açores, escreveu Torsay que um pacto secreto fora assinado, na primavera de 1582, entre a Rainha-mãe de França e o Prior do Crato, tendo este aceito o socorro de Catarina a troco da seguinte condição: "luy restabli dans les Estats, elle auroit pour ces prétentions la région du Brésil".
Durante mais de dois séculos o valor documental desse texto permaneceu ignorado e foi somente a partir de 1836, quando da sua reedição por Cimber e Danjou, que os autores começaram a atentar na novidade do testemunho. E assim concluíram, sem outra base de prova, que D. Antônio oferecera a terra do Brasil a Catarina de Médicis, desejando apenas uma compensação: a do auxílio militar para a reconquista do seu trono em Portugal. Estava assente uma nova "tese" que passou a transitar em julgado (17) Nota do Autor.
Mantendo essa renúncia de direitos do Prior do Crato, com base no informe de Torsay, apareceu em 1852 um opúsculo do erudito francês Édouard Fournier (18) Nota do Autor. Não esconde este lusófilo