Gandavo consagrou à matéria, na sua História da Província de Santa Cruz; compara o fruto da mandioca ao gosto da amêndoa pilada, informando que uns a misturam com açúcar e outros na sopa, numa aplicação idêntica à do queijo em França. Também se refere ao jacarandá, árvore muito agradável à vista e que tinha a nota particular de nunca ser atacada pela bicharia.
Dos moinhos de engenho indica a existência, somente na Bahia, de 36, sendo as terras próximas Unicamente destinadas a essa cultura, a mais rendosa no tempo, pelas suas linhas de exploração comercial; e salienta, como dado interessante, que o aumento da pluviosidade em certas estações tornava a colheita mais abundante. A terra era ainda pródiga em arroz, feijão, tabaco — que valia "six solz la livre" — e gengibre, fornecendo o autor úteis conselhos para uma fecunda cultura desta planta vivaz. Torna-se curioso referir que a nossa Relation nada refere quanto à proibição da saída do gengibre do Brasil, por ordem expressa dos reis de Portugal, medida que era muito anterior a 1636 (67) Nota do Autor.
Passando depois à descrição da fauna baiana, trata-se do processo da pesca da baleia, que tinha anualmente início na época de S. João, narrando com curioso pormenor essa caça marinha. Segundo Frei Vicente do Salvador, fora o governador Diogo Botelho, em 1603, quem introduzira no Brasil esse processo. O autor salienta o destino do óleo obtido e o hábito popular, sobretudo dos gentios, de cozer e salgar a carne de peixe, que assim se tornava a base da alimentação, e refere: "ce n'est pas une mauvaise provision pour le ménage".
A Relação — que foi composta já depois do regresso do autor à França, pois várias vezes menciona, em oposição ao Brasil, ce pays-ci, isto é, a sua própria terra — apresenta-se rica de informes sobre a natureza brasileira, as principais culturas, a fauna e a flora dessa terra pouco menos do que virgem. Ainda que não deva conter novidades para o agrônomo e o naturalista, cremos que a notícia não seja de todo inútil para o economista e, em grande medida, para o historiador. O autor viu e soube ver o que relata, conseguindo trazer até nós, de maneira simples, aspectos da vida econômica e agrícola da baía de Todos-os-Santos, que visitou em 1635.