culturas agrícolas. Era apenas uma prova de força para obter o cansaço dos defensores. E já se começavam a notar indícios de fraqueza entre a população, com discussões públicas a que o Bispo teve de pôr cobro, apesar do seu cansaço físico, com o fervor de uma palavra de conforto. "Se a cidade se toma não hei-de ficar com vida", repetia o bom prelado (83) Nota do Autor.
Mas na noite de 25 para 26 de maio o inimigo acabou por debandar, deixando a maior parte das munições, do material de guerra e dos mantimentos que recolhera para as suas tropas. Uma carta do padre Simão de Vasconcellos, que viria a ser o autor da História da Companhia de Jesus, refere "a preça e medo" dos inimigos e o júbilo da vitória portuguesa: "os nossos ficaram tão animados com a vitoria que com pouca mais ajuda lhes parece poderiam conquistar o mais estado" (84) Nota do Autor. E a ação do Bispo do Brasil tornara-se digna de louvor, na opinião do mesmo jesuíta: "pois o dito Sor soube fazer tantos serviços a Deos e a S.M. saiba o mundo conhecellos e agardecerlhos esse Reyno".
O Brasil, chave das Índias Orientais e da África
Na carta do Bispo descortina-se um pensamento que, não sendo original, reflete bem o espírito dos moradores do Brasil perante a ameaça que pesava sobre o Império ultramarino português.
O avanço de Nassau nas capitanias ao norte do rio S. Francisco ia-se acentuando de ano para ano. Não se tratava apenas da formação de um Brasil holandês à custa das terras do Império filipino. O perigo era maior, porque afetava outras parcelas, como a Índia, que não tardaria em ser presa do inimigo, e as possessões da África portuguesa. "Estou espantado do estado a que nos deixam chegar e como não consideram que perdido o Brasil de todo se perdem as Índias" (85) Nota do Autor. O Estado do Brasil era a chave da segurança da Índia e, portanto, da navegação que se dirigia ao Cabo da Boa Esperança.