aceder à proposta e de renunciar aos direitos que julgava possuir à terra de Santa Cruz. E de tal modo esses argumentos pareceram concludentes que, a partir de La Roncière, todos os historiadores o passaram a seguir fielmente.
Logo em 1911, nas lições que proferiu na Sorbonne, depois reunidas em volume, o grande historiador Oliveira Lima mencionou a cessão de direitos por parte de D. Antônio, escrevendo: "Invocando direitos de sucessão, indiscutíveis, mas que poderiam ser igualmente reivindicados por outros (...) o rei de Espanha pôs em fuga o rei aclamado pela população de Lisboa. Esse rei era o pobre D. Antônio, Prior do Crato, neto bastardo de D. João II, o qual veio a morrer na França, abandonado e pobre, após haver, por um momento, imaginado ir estabelecer a sua realeza popular no Brasil para, em seguida, negociar com a astuta Catarina de Médicis a cessão do mesmo Brasil à França, em troca do apoio decisivo dessa potência ao seu sonhado advento à Coroa de Portugal. Existem documentos — achou-se mesmo recentemente, em São Petersburgo, um bilhete autógrafo de Catarina de Médicis, dirigido a Strozzi — que confirma esse ensaio de combinação política, o qual não nos surpreende muito, quando nos lembramos da habilidade empregada pelo primeiro dos Valois, durante o longo desfile das reclamações portuguesas contra as incursões dos corsários normandos e bretões, o que tudo fazia crer num plano assentado para a ocupação permanente de algumas terras brasileiras" (26) Nota do Autor.
O historiador francês Jean-H. Mariéjol cita as fontes apresentadas por La Roncière e conclui em termos idênticos (27) Nota do Autor. E no ano de 1940, ao redigir um estudo sobre a unidade do Brasil português no século XVI, o Prof. Pedro Calmon decerto meditou na gravidade de uma tese que não estava fortemente documentada, porque escreveu com a devida cautela: "O Prior do Crato (...) batido, exilado, não vacilou em transigir com as possessões ultramarinas. Parece (pois nos faltam, para afirmá-lo, papéis mais explícitos) que o preço da ajuda que se lhe dava em Paris seria o Brasil" (28) Nota do Autor; e o mesmo autor citava os argumentos 1° e 4° da obra de La Roncière, mas não querendo inclinar-se para o juízo da tradição.