Dois anos passados, numa obra de conjunto que vibra no justo anseio de reabilitar a maltratada figura de D. Antônio, o falecido historiador Monsenhor José de Castro segue fielmente os argumentos de La Roncière, considerando "grande miséria moral e patriótica a venda do Brasil pela compra do apoio francês" (29) Nota do Autor; e em 1944, Luís Vieira de Castro e Rodrigues Cavalheiro procuravam resumir na seguinte frase a política de Catarina de Médicis para com D. Antônio: "Simplesmente, a astuta Rainha, italiana até à medula, exigia do Prior em troca dos serviços que o haviam de recolocar no trono, a cessão do Brasil à França — e o infeliz pretendente não teve outro remédio senão prometer-lho" (30) Nota do Autor.
A primeira tentativa de reabilitação de D. Antônio, no que respeita a essa crítica, deve-se ao falecido numismata Dr. Pedro Batalha Reis. Aceitando os dados propostos na obra de La Roncière, procurou demonstrar que a renúncia de direitos não deveria ser tomada à luz de um sentimento nacional ultramarino, que talvez não existisse ainda em 1580. E o Dr. Batalha Reis aceitava como legítima essa renúncia, se D. Antônio entendia ver numa alienação do Brasil o único meio de recuperar a terra da Metrópole que constituía o verdadeiro título da sua realeza perdida (31) Nota do Autor.
Também o Dr. José Pedro Leite Cordeiro se inclina para a tese da venda do Brasil à Coroa francesa, mencionando os argumentos de La Roncière e a síntese de Monsenhor José de Castro, para concluir: "D. Antônio tentava assim a posse de um reino com enorme domínio territorial em troca de uma colônia na América do Sul que até então escondera no seio das suas matas e nos altos picos das suas montanhas as riquezas que mais tarde tornariam tão opulenta a Corte lusitana" (32) Nota do Autor. E muitos outros historiadores, tanto do Brasil como de Portugal, mantiveram a tradição que desabonava o caráter do Prior do Crato e fazia deste uma pessoa alheia ao destino português da Terra de Santa Cruz.