Já no ano de 1956 pretendemos discutir a legitimidade de um parecer que desde o século passado tem feito escola sem uma crítica do seu fundamento; e escrevemos então: "Não pomos em dúvida que novos documentos venham a demonstrar no futuro o acordo tácito de D. Antônio, no ambicioso plano da Rainha-mãe de França. Mas enquanto essas fontes não surgirem no campo da história não será uma atitude justa lançar uma acusação que nos parece infundada sobre a memória de D. Antônio, impondo-se a todo o investigador, pelo contrário, analisar os termos precisos que nesses documentos se contêm. Os textos mencionados são claros em confirmar que o almirante Strozzi deveria tomar o rumo do Brasil logo que estivesse assegurada a defesa da ilha Terceira. Mas onde se encontra nesses documentos a confirmação de que o rei de Portugal concordava com o plano de Catarina de Médicis? Onde estão as referências diretas que nos permitam esclarecer a posição tomada por D. Antônio? Forçoso se torna reconhecer que as fontes invocadas por La Roncière se apresentam inteiramente concludentes no que respeita aos objetivos da Rainha-mãe, que instruíra os dois almirantes da frota para, saindo dos Açores, se dirigirem a outro continente. Porém, o ambicioso plano da mãe de Henrique III para obter o domínio do Brasil não se identifica com a renúncia do rei de Portugal a essa terra da sua Coroa" (33) Nota do Autor.
Importa pois, em primeira análise, rebater os quatro argumentos sustentados por La Roncière e o testemunho seiscentista de Torsay.
1°) O mapa do Brasil, indicando o ponto de ataque ao Rio de Janeiro, não prova que o mesmo tenha pertencido a Strozzi ou que se destinasse à expedição deste general. É sabido que durante a segunda metade do século XVI a França pretendeu instalar um domínio no sul da América, para ali enviando expedições. O próprio La Roncière evoca as tentativas de Villegaignon, de Bois le Comte e de outros corsários franceses, todos "en quête d'un empire colonial pour la France". Portanto, a legenda que acompanha o mapa, sendo posterior a 1560, ano em que os franceses se viram expulsos do Rio de Janeiro, não contém dados que provem ter sido desenhada para uso de Strozzi. Destinando-se a uma possível reconquista da