ilha de Villegaignon, empresa que se torna impossível datar, esse mapa implica o conhecimento exato das costas do Brasil pelos franceses, mas não constitui argumento para provar a renúncia de direitos por parte de D. Antônio.
2°) A carta de Henrique III a Strozzi, de 7 de setembro de 1581, destituindo-o do cargo de Coronel-general da infantaria francesa, também constitui um argumento sem valor probatório. Onde pôde basear-se o Dr. Leite Cordeiro, historiador de autoridade, para ver nesse texto "a nomeação de Strozzi para o cargo de Vice-rei do Brasil com o posto de tenente-general"? A destituição voluntária de Strozzi justifica-se porque lhe era impossível acumular dois cargos distintos, já que a preparação da frota em socorro dos Açores lhe preenchia o tempo, obrigando-o a fixar-se nos portos franceses do sudoeste: Bordéus, La Rochelle, Nantes e Belle-Isle. Mas torna-se estulto pensar — e a História não se edifica em suposições sem alicerce — que, abandonando seu cargo na infantaria francesa, Strozzi se tenha deixado tentar pela promessa de uma vice-realeza de que os documentos nunca fazem menção.
3°) A instrução confidencial de Henrique III a Strozzi, de 3 de maio de 1582, ordena-lhe que, socorridas as ilhas açorianas e conquistado o arquipélago de Cabo Verde pelo conde de Brissac,."quant set viendroyt sur le moys d'aoust (...) ledict Strozzi s'en allast au Brézyl". Mas a nota inclusa de que o Almirante deveria manter o conteúdo da instrução "à la segrète", prova que os planos de Catarina de Médicis só eram do conhecimento desta, do Rei seu filho, do secretário Villeroi e dos Almirantes Strozzi e Brissac. Havia, na verdade, um plano para a esquadra francesa atacar a costa do Brasil. Mas não se vislumbra na instrução a prova da anuência de D. Antônio ao plano dos reis de França. Portanto, um novo argumento que nada demonstra.
4°) Idêntica conclusão se extrai do bilhete de Catarina a Strozzi, da mesma data, onde não se encontra qualquer alusão a uma renúncia de D. Antônio às partes do Brasil. A Rainha-mãe escreve em certo passo: "se virdes que podeis ir lá (ao Brasil) não vos esqueçais de o fazer". O plano aparece, deste modo, com um caráter de oportunidade que exclui o prévio conhecimento de D. Antônio.