Mas, dadas as condições sociais do Brasil, o mecanismo necessário à formação destas maiorias, seguiria o rito do famoso sofisma que Nabuco de Araújo lançaria em protesto contra a constituição do gabinete Itaboraí.
Eis o que diz o senador Nabuco:
"O Poder Moderador pode chamar a quem quiser para organizar ministérios: esta pessoa faz a eleição, porque há de fazê-la e esta eleição faz a maioria."
Sim, as coisas funcionavam desse modo. Mas, onde estava a raiz do mal? Heitor Lyra, o sólido biógrafo de D. Pedro com muita lucidez e compreensão da realidade política e social do Império, analisa o sorites e mostra o seu ponto fraco: a ação eleitoral dos presidentes de província.
"Este raciocínio era, sem dúvida, exato, quer dizer, todas as suas proposições de fato se verificavam. Mas, convinha indagar: era por culpa do Imperador? Por culpa da Constituição? ou por culpa da escassa cultura das massas eleitorais?"
"Se as proposições que formavam o "sorites de Nabuco" se verificavam de fato, uma delas, pelo menos, de direito, era falsa e tirava, assim, ao sorites, todo o fundamento legal. Os presidentes de província, dizia Nabuco, faziam as eleições. De fato, assim era: os presidentes de província faziam bem as eleições, a mando e sob o controle dos gabinetes, que fabricavam eles mesmos as câmaras, as quais, teoricamente, os deviam sustentar. Mas, onde estava o fundamento legal da atribuição que se arrogavam os presidentes de província, de fazerem as eleições?"(3) Nota do Autor.
Afinal, conclui Heitor Lyra, se fossem outras as condições sociais, o eleitorado reagiria livremente, sem se preocupar com a influência do governo.
De tudo isto, inferimos duas conclusões:
a) os presidentes de Conselho tinham as províncias como seu campo de ação;
b) o Poder Moderador nada mais podia senão fazer e desfazer os gabinetes, sem qualquer atuação, já que o presidente de Conselho era o autor das eleições e, pois, das câmaras suas.