Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX

deficiência fundamental de serem escassos em informações de família, das mais interessantes para os estudiosos". Das tias recebeu mais, o Dr. Oscar, papéis relativos ao Santo Ofício da Inquisição, dentre eles o título de "Familiar do Santo Ofício", conferido em 1794 ao primeiro proprietário do "Campo Seco", e um bem raro folheto impresso no século XVI, contendo os privilégios e regalias concedidos aos familiares da Inquisição pelos reis de Portugal. Cartas de princípios do século XIX, papéis de natureza vária e documentos relativos à luta entre as famílias Moura e Canguçu, completaram o valioso acervo que o Dr. Oscar trouxe para a cidade de Campinas, no Estado de São Paulo, onde espontaneamente tudo entregou à guarda de seu irmão mais velho, o engenheiro civil Artur Gutierrez Canguçu. Fotografias de família, moedas antigas, do período colonial e imperial - como algumas espanholas, de prata, que correram no Brasil, recarimbadas - algumas pedras preciosas e semipreciosas, também recebeu o Dr. Oscar Canguçu daquela opulenta fonte que foi o "Sobrado do Brejo".

O outro neto de Exupério, fazendeiro em Bauru, no Estado de São Paulo, conseguiu reunir, em sua fazenda, uma apreciável quantidade de documentos e objetos que pertenceram aos seus maiores. Nas sucessivas visitas às velhas tias, Inocêncio Canguçu foi por elas presenteado com manuscritos relativos à contenda entre famílias, cartas diversas, títulos de patentes militares, papéis referentes aos escravos, ao recenseamento geral de 1872, a assuntos de natureza eleitoral e política, recibos, testamentos, etc. E mais louça, colheres, garfos e facas de prata do período colonial, copos de prata, insígnias maçônicas em ouro, colar, brincos e pulseira de ouro, brilhantes e coral, sinete de cristal, santos do Oratório do Sobrado, o Sacrário, a bonita espada dourada que pertenceu a Exupério, o estojo de pistolas, etc., etc.

Foi dispondo dessa excelente coleção de papéis e objetos, depositada em mãos das viúvas dos dois netos de Exupério Canguçu - pois que ambos são mortos - que me foi possível escrever o presente ensaio, unia síntese historiográfica e informativa da evolução material e cultural da região sertaneja do "Campo Seco".

O elemento humano que entrou, e que não poderia faltar para que se completasse o quadro, foi a gente simples e comum, que possuiu e habitou a fazenda. Foram os fazendeiros e seus familiares, os agregados, vaqueiros, feitores, os escravos. Foram os vizinhos, os parentes e demais proprietários das cercanias, os moradores das vilas próximas, foram os artífices que construíram o "Sobrado do Brejo", os viajantes que pela fazenda passaram. Tudo gente simples e comum, igual à gente do "Brejo do Campo Seco", de maneira que, retratando esta, no seu viver quotidiano, retratados ficam os habitantes da região.

Ao perfil da sociedade, que foi essa mesma, composta de homens sem história, acrescentei a descrição da terra, do ambiente

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