os moradores, que cuidaram eles da escolha de lugar mais saudável para a sede da vila. Procuraram a zona serrana, onde hoje se situa a cidade do Rio de Contas. El-Rei, por intermédio do Conselho Ultramarino e através do governador-geral do Brasil, autorizou a mudança em 1745, quando a maioria dos habitantes se transportou para o novo local, onde logo se edificou uma Casa de Fundição de ouro e levantou-se o pelourinho, símbolo da autoridade. O que restou da antiga povoação passou a chamar-se de Vila Velha, atualmente denominada Livramento do Brumado.
Prosperou a vila, logo elevada à freguesia, dependente do Arcebispado da Bahia. Surgiram e multiplicaram-se as casas de taipa, de porta e janela, moradia dos mineiros e dos novos habitantes, comerciantes e homens de negócio, artífices e homens de ofício, autoridades, a gente da Igreja, o cirurgião-barbeiro, o boticário, afinal, toda a população de uma vila florescente, afamada pelo ouro extraído em suas cercanias. Sobre a abundância do metal, disse um cronista(4) Nota do Autor: "O Rio de Contas nadava em ouro, de uma maneira tal que pareciam exageradas as arrobas de que falam os arquivos da Câmara e os próprios Compromissos das Irmandades. A moeda corrente era o ouro em pó ou em barra". "Contam os velhos que nas festas públicas, que ali se faziam pomposamente, elegiam um Rei e uma Rainha, para solenizar os atos e nas cabeças de ambos derramavam cartuchos de ouro em pó". De certo exageraram os velhos narradores na descrição das festas de Reisado, promovidas pelos negros escravos. O ouro foi muito desejado, procurado, tributado e quintado, para ser assim derramado a granel nas carapinhas africanas ... Mas a realidade e a lenda muito fizeram pelo distrito do Rio de Contas, e não foi à toa que a região fervilhava de gente sôfrega por fortuna, quando para lá se dirigiu e se estabeleceu o Familiar do Santo Ofício, Miguel Lourenço de Almeida.
Viviam espalhados pelo distrito, nessa época, milhares, talvez, de cristãos-novos. Muitos, enredados em devassas, no Reino, ali estavam foragidos e escondiam-se até da própria sombra, assustados, temerosos, guardando-se de tudo e de todos. Mas o sertão era grande, e o ouro, abundante, amaciava a atuação dos agentes da Inquisição. A maioria lá permanecia tranquila, folgada, rica, livre mesmo para a prática de heresias.
Que de sustos e receios não haveria provocado o aparecimento nesse meio, tão prenhe de suculentas presas, de um "Familiar do Santo Ofício"? Iria ele espionar, devassar palavras e atos de herética pravidade, delatar e apontar suspeitos?
Parece que não. Uma busca minuciosa na papelada mais importante do arquivo do Sobrado do Brejo, resultou negativa