Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX

CALAFATE, s. m. - indivíduo que tem por ofício calafetar.

CALÇAR UMA FERRAMENTA - revestir de aço a superfície cortante da ferramenta, para tornar o gume mais resistente ao atrito.

CALÇÕES DE PÉ - seriam perneiras de couro de veado, inteiriças, sem costura, cobrindo as pernas e parte dos pés.

CANEQUIM, s. m. - fino tecido de algodão, manufaturado na índia. (Pinheiro Pinto escreveu: "canecim").

CAPELA DE MISSAS - bens deixados em testamento, vinculados, para pagamento de uma série de Missas pela alma do doador, ou de outra pessoa declarada. (Escreveu a viúva de Miguel Lourenço, em 1834: "e uma Capela de Missas pelas almas de meus Pais").

CARGA, s. f. - quantidade de gêneros, ou de mercadorias, que um animal, dito "cargueiro", transporta em seu lombo. Equivalia, em peso, a seis arrobas, no Campo Seco e na região em volta. Uma "carga" divide-se em dois "costais", de oito arrobas cada.

CÁRREGO, s. In. - cargo, ofício. (Admitiam-se as duas pronúncias: "carrego" e "carrego"). (Citação no "Traslado dos privilégios concedidos aos Familiares do Santo Ofício").

CASAL DE XÍCARA - xícara e pires.

CERRADO, s. m. - mata da caatinga; vegetação densa (mesma acepção em várias regiões do país). (Inocêncio Canguçu escreveu, em 1828: "Serrado").

CHAPÉU DE BRAGA - (ou "chapéu braguês") - chapéu fabricado nas oficinas da cidade portuguesa de Braga; era artigo de qualidade "grossa", ou "inferior". (Época: duas primeiras décadas do século XIX).

CHAVE, s. f. - (ou "chave da mão") - medida antiga de comprimento. É a distância que vai do dedo polegar ao indicador, estando a mão bem aberta. Equivale a uns 20 centímetros. (Pinheiro Pinto escreveu: "'cave").

CINCERRO, s. m. - campainha que se pendura ao pescoço do animal-guia da tropa. Termo apresentado pelos dicionaristas como de origem sulina. De uso no Nordeste em meados do século XIX.

COARTA, s. f. - corruptela de "quarta", antiga medida de capacidade, equivalente à quarta parte do alqueire.

COARTO DE CARNE - o quarto do animal, que antigamente compreendia a mão, ou perna, até a metade da barriga, na largura, e metade do lombo na altura.

COARTOS, s. m. pl. - corruptela de "quartos", ou as crias pertencentes ao vaqueiro, no regime de pagamento por "sortes" ao quarto, isto é, de cada quatro crias, uma cabia ao vaqueiro.

COBERTOR DE PAPA - cobertor de lã felpuda, de qualidade inferior, muito usado pela gente do povo, nos tempos passados. (Época da citação: 1800).

COMPITO, s. m. - corruptela do vocábulo "cômputo". (A acepção não é a de compito, isto é, encruzilhada. Lê-se num dos livros manuscritos do Campo Seco, no denominado "Livro do Gado": "todo compito acima declarado e por mim recebido..." Ano de 1742).

CONTAGEM, s. f. - Corilinão. OU ordenado, dos contadores da Justiça de el-Rei. (Época: meados do século XVIII).

COPIAR, s. m. - alpendre, de uma só água.

COSTAL, s. m. - metade da carga transportada por um animal cargueiro. Equivalia a três arrobas, no Campo Seco e na região em derredor.

CRAVADOR, s. m. - peça de ferro usada pelos sapateiros, para furar a sola.

CRÉDITO, s. m. - documento de dívida; o mesmo que "obrigação", ou letra de câmbio.

CRIADOR, s. m. - indivíduo encarregado da criação cavalar e muar. Seria o "vaqueiro" das éguas, se assim se pudesse chamar.

CRIOULO, s. m. - negro nascido no Brasil.

DAVITA, s. f. - corruptela de "dádiva". (Pinheiro Pinto escreveu: "não poderei eu nem meus herdeiros em tempo algum anular esta minha davita")

DEBAIXO DAS COBERTAS - (?) - Significaria o convés de alguma nau, ou algum lugar da cidade do Salvador, ou ainda expressaria a entrega de dinheiro mediante recibo. (Pinheiro Pinto escreveu: "Deve o ar. Antônio de Miranda de empréstimo... 25$000, para o dito Sr. dar na Balda debaixo das cobertas a Manuel Silva Coelho").

DESEMBARGAR, v. t. - desembaraçar de um ônus. (Pinheiro Pinto escreveu: "dentre os bens que peçuo (sic) livres e desembargados").

DESGRADAR, v. t. - corruptela de "desgradear"; o oposto de "engradar".

DESNE, prep. - corruptela de "desde". Forma popular muito antiga e muito usada, até hoje, no Nordeste e Norte do país. Dicionaristas apontam ainda a variante "desna". (Pinheiro Pinto escreveu, antes de 1820: "desne").

DESOBRIGA, s. f. - cumprimento do preceito pascal, e de sacramentos da Igreja Católica.

DESOBRIGADO, adj. - diz-se do animal (equino ou muar) castrado. (Época: 1808).

DROGUETE, s. m. - variedade do tecido de lã. Quanto mais encorpado, melhor qualidade apresentava.

DURANTE, s. m. - variedade do tecido de lã. Era pano lustroso como o cetim e usava-se na confecção de mantilhas.

EFEITOS, s. In. pl. - valores negociáveis. (Época: duas primeiras décadas do século XIX).

ÉGUAS DE ENTREGA - animais entregues ao criador, no regime de pagamento por "sortes", para criação. Pertenciam sempre ao fazendeiro.

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