Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX

Com o perpassar dos tempos, a periódica divisão das terras da fazenda, por morte dos proprietários, acarretou alterações na designação. "Campo Seco", sob Miguel Lourenço, em meados do século XVIII. "Campo Seco", e "Brejo do Campo Seco", em fins do século XVIII e princípios do XIX, sob o domínio do genro e sucessor de Miguel, Antônio Pinheiro Pinto, aquele que construiu o Sobrado do Brejo. "Brejo do Campo Seco" ou "Brejo", simplesmente, ou "Engenho do Brejo", ou "Fazenda do Brejo", até o fim do século XIX, sob a posse do neto e do bisneto de Miguel Lourenço, respectivamente, Inocêncio Pinheiro Pinto (Canguçu) e Exupério Pinheiro Canguçu. A denominação de "Catiboava" ao que restou do antigo domínio do Brejo, aplicou-se no século atual. Quanto ao primitivo nome de "Campo Seco", continuou ele a designar terras limítrofes às do Brejo, inclusive parte daquelas onde se formou o povoado de "Bom Jesus do Campo Seco", depois chamado "Bom Jesus dos Meiras" e atualmente "Brumado", município e comarca do Estado da Bahia.

A circunstância de o povoado situar-se dentro da fazenda, levou os naturalistas bávaros, Spix e Martius, que percorreram o Brasil de Sul a Norte, em 1817-20, a confusão muito justificável. Descrevendo a viagem de Caetité a Rio de Contas, aludiram eles à "fazenda do Bom-Jesus-de Mira" (sic), por onde não passaram, mas da qual ouviram falar, por constar terem sido ali encontrados, nas margens e vizinhança do "Rio Santo-Antônio" (sic), "ossadas de animais antediluvianos"(6) Nota do Autor. Nessa ocasião ainda vivia, morando no seu Sobrado do Brejo, o genro do Familiar do Santo Ofício, porém a ele não se referiram os citados naturalistas. É que não passavam os velhos caminhos para Goiás, Minas Gerais, e também Contas, pela antiga estrada Bahia-Goiás.

Distante umas quatorze a quinze léguas da então vila do Rio de Contas, situava-se a fazenda do Campo Seco na região por onde passaram pelo Campo Seco. Seguiram de Caetité para Rio de para as capitanias do Norte, caminhos esses abertos na rota de currais já formados e dos que se formaram, por vias ou decorrência das mesmas estradas. Os criadores do sertão do Rio de Contas, entre eles incluindo-se Miguel Lourenço, serviram-se desses caminhos para o comércio do gado, rumo ao Salvador, via Cachoeira, rumo até mesmo ao Piauí e, principalmente, rumo às minas da capitania de Minas Gerais, onde o gado alcançava alto preço, sendo por vezes pago em ouro. Essas trilhas de penetração, rotas que procuravam as minas, transformaram-se, por fim, em estradas de boiadas e tropas, escoadouro dos produtos daquela região, onde estava o Campo Seco, região que os historiadores apontam como de intenso desenvolvimento da pecuária, na época.

Uma comunidade rural do Brasil antigo. Aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX - Página 47 - Thumb Visualização
Formato
Texto