vinham os condes de tal, um varão guapo e uma singular dama... "Caro Rubião, aqui estamos", dir-lhe-ia o conde, no alto; e, mais tarde, a condessa: "Senhor Rubião, a festa é esplêndida..."
"De repente, o internúncio... Sim, esquecera-se que o internúncio devia casá-los; lá estaria ele com as suas meias roxas de monsenhor, e os grandes olhos napolitanos, em conversação com o ministro da Rússia. Os lustres de cristal e ouro alumiando os mais belos colos da cidade, casacas direitas, outras curvas ouvindo os leques que se abriam e fechavam, dragonas e diademas, a orquestra dando o sinal para uma valsa. Então os braços negros, em ângulo, iam buscar os braços nus, enluvados até o cotovelo, e os pares saiam girando pela sala, cinco, sete, dez, doze, vinte pares. Ceia esplêndida. Cristais da Boêmia, louça da Hungria, vasos de Sèvres, criadagem basta e fardada, com as iniciais de Rubião na gola" (I, 827). Nesta altura, o capitalista Rubião, ferido de grandeza e de delírio, já se sentia o marquês de Barbacena (I, 628). Transportava-se para a sociedade refinada do Segundo Reinado, em imaginação. Sua situação de classe, embora pela ociosidade próxima do topo e do escol, não lhe concederia lugar de tanta proeminência, se a fantasia não interviesse, mesclada de enfermidade. Não obstante, arredados os intrusos, esta era a "boa sociedade" da época, ornamentada de casacas e de comendas. O ruído dessa camada indica a proximidade do trono e da coroa, sem ser o reflexo do fausto e da opulência. Aristocracia burocrática, estamental no seu contexto, tocada pelos cabedais de um certo tipo de capitalismo, pré-industrial, político nas suas conexões. Não apenas o abastado Rubião com ela se embriagara; ela tecia os melhores sonhos do humilde Rangel, o mesmo Rangel que um dia ousou usurpar a coroa imperial, dominado pelo "demônio das grandezas", que fazia as "suas arlequinadas no coração do novo homem" (II, 521).
Hierárquicas são as relações entre as pessoas e as categorias, hierarquia muitas vezes sutil que se insinua na etiqueta e nas cortesias. O rapapé e as mesuras, o salamaleque e as zumbaias traem o acatamento de uma faixa de sociedade à outra. Há, no exagero, misto de respeito e escárnio, humilhação submissa e ironia, que a melhor sedimentação iria substituir pela polidez e, urbanidade. A distância social maior percebe-se nas relações fora da classe, entre estamento e classe, com a tradução, para as relações dentro das classes, dos padrões daquele.