Uma série de incidentes, aparentemente diminutos, contribuíra para aumentar o clima já quase insurrecional, em que se encontrava a capital do Império. Logo no dia imediato à posse do gabinete Ouro Prêto, partira para o Norte, no navio "Alagoas", o príncipe-consorte, Conde d'Eu, talvez a conselho do novo chefe do governo. Era uma viagem política, através da qual o marido da herdeira do trono, sempre ligado aos liberais, procuraria popularizar-se e preparar-se para o papel que, por certo, esperava desempenhar no terceiro reinado, - o de governar através da esposa. Ao anunciar-se a viagem do príncipe, Silva Jardim teve um gesto de ousadia: reservou passagem, para si, no mesmo navio. Ia cobrir exatamente o mesmo itinerário. Onde parasse o príncipe, para falar ou receber homenagens, aí também Silva Jardim excitaria os sentimentos republicanos, em comícios, ou em conferências, contando menos com a organização partidária que com o sentimento espontâneo de curiosidade do povo e com o ardor da mocidade das escolas. Para aumentar o contraste, o Conde d'Eu era quase um gigante, alto, esguio, mas com uma elocução defeituosa, arrastando os "rr" de tal modo que o chamavam quase sempre "o herói de Perrrrribebuí", ao passo que Silva Jardim era um pigmeu, com uma voz sonora, cheia, quente, bem modulada, capaz de produzir arrebatamento no auditório. Foi uma competição pitoresca, - e mais pitoresca, ainda, pelas repercussões que teve na imprensa. Para os jornais de tendência monarquista, como A Tribuna Liberal, o príncipe recebia manifestações retumbantes, apesar dos esforços em contrário dos agitadores republicanos, e popularizava a dinastia, recebido nos braços do povo. Para os jornais republicanos, Silva Jardim era aclamado pelas multidões, ao passo que o príncipe fazia figura insignificante, passando despercebido se não fosse a preocupação dos círculos oficiais das províncias em exagerar as homenagens que por dever lhe prestavam. Na Revista Ilustrada, o lápis ágil de Pereira Neto mostrou os dois, percorrendo o Brasil de bicicleta, o conde com uma coroa sob a cartola e Silva Jardim com um barrete frígio sobre o chapéu. A um canto da página, Ouro Prêto lia gostosamente os telegramas, achando que o seu favorito "ia na ponta". Sob a caricatura do Conde d'Eu, lia-se esta quadrinha: