Deodoro: a espada contra o Império Tomo 1 – O aprendiz de feiticeiro (da Revolta Praieira ao Gabinete Ouro Preto)

disparando contra a polícia. São os alferes-alunos Tasso Fragoso, José Bevilaqua, Aníbal Cardoso, Saturnino Cardoso e vários outros que, estabelecida a confusão, conseguem desaparecer do local do conflito sem que os atacantes tenham podido sequer identificá-los. Ficam tombados, no chão, os feridos na escaramuça: além de Tito Correia Lopes, J. de Freitas, baleado no braço; Brás Remígio Monteiro, baleado na perna direita; José Joaquim de Lemos, ferido a bala na perna; Pedro Justo de Sousa, ferido a bala no ombro direito; o menor Aristides ferido a bala no pé; Avelino Ribeiro, golpeado a navalha por um membro da Guarda Negra; e Américo da Silva, baleado num pé. Além disto, fez a polícia cerca de dez prisões de manifestantes que eram portadores de armas. O depoimento de um dos feridos, Brás Remígio Monteiro, foi tomado nos seguintes termos: "Disse ser brasileiro, casado, de 30 anos de idade, negociante e morador à Rua dos Inválidos n.° 93, e que foi ferido por um tiro de revólver na perna esquerda; declarou que, estando a tomar café, no Café Brasil, ouviu quando davam gritos de "Viva a República!" e, chegando à porta, deu ele com todas as forças um "Viva a Monarquia!", sendo nessa ocasião agredido por alunos da Escola Militar, e agarrando-o, um deles disse para os companheiros: "Mata esse diabo!" – recebendo na ocasião o ferimento que apresenta".

A reação da maior parte da imprensa a esse episódio foi imediata e vigorosa. Rui denunciou a sobrevivência da ominosa Guarda Negra, criada durante o governo João Alfredo, assim como a inteligência das autoridades com a capangagem, e dizia que "o imperador deve estar satisfeito com os seus homens, o Conde d'Eu exultante com os seus liberais, a princesa extasiada nos salvadores da sua herança, e a metrópole imperial desvanecida nesse quadro oficial da sua civilização de cacete e navalha". E, concluindo: "Sempre a mesma triste comédia da selvageria propagada pelo governo, para dar à monarquia a segurança do seu aulicismo. Mudam-se os partidos no poder, mas a monarquia não muda nas suas tradições. A sua senilidade, porém, já cheira a decomposição cadavérica. Estava reservada ao Partido Liberal a triste missão de servir-lhe de coveiro". Em O País, como no Correio do Povo, há a mesma indignação.

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