Não resta dúvida que os acontecimentos de 14 de julho influíram para o episódio do dia 15, o do atentado contra o imperador. Foi uma resposta aos fatos da véspera, dada por um rapazola de imaginação exaltada, leitor, sem dúvida, de tantas expressões veementes. Tranquilo e seguro de si, o imperador fora, com a imperatriz, ao Teatro Santana, ouvir o concerto dado na noite do dia 15 pela violinista Giulietta Dionesi. Ao fim do concerto, seguidos de seus camaristas, D. Pedro II e D. Teresa Cristina deixam o teatro e tomam a carruagem imperial, que os aguardava, em frente. Eis que alguém, irrompendo dentre os curiosos, se adianta e dá um "Viva a República!". Há um princípio de tumulto. Cai ao chão uma senhora e o indivíduo que dera o grito embarafusta pelo meio do povo. Adiante, quando a carruagem, fustigados os animais pelo cocheiro, já vai virando a esquina, ouve-se um tiro. E a polícia prende, quando se abrigava na Maison Moderne, o autor da façanha, Adriano Augusto do Vale, de vinte anos de idade, de nacionalidade portuguesa, caixeiro da casa comercial de Ferreira & Cia., à Rua Teófilo Otôni, n° 119, onde morava, segundo declara ao ser qualificado. Estivera Adriano bebendo em companhia de amigos, nas proximidades do teatro, antes de praticar a façanha. No primeiro momento, toda a imprensa republicana reprova o atentado e parece afetada, sentimentalmente, por uma crise de que se beneficiaria o imperador. Entretanto, logo depois, começa a retrair-se. É que o governo não só procurava capitalizar ao máximo tão insignificante incidente, como ainda quer dar-lhe uma origem republicana, convertendo o rapazelho alcoolizado num sicário infamemente peitado pelos inimigos da monarquia para eliminar o velho imperador. Na Maison Moderne, estavam dois moços, notoriamente conhecidos por suas tendências republicanas. Fora ali que Adriano, conforme depusera, bebera absinto, antes de sair para dar o viva e o tiro para o ar. Em seu poder, encontrara a polícia dois revólveres, um grande, que alegou ter comprado por 16$000, para seu uso, e outro menor, que disse ter recebido, momentos antes, das mãos de Pardal Mallet.
Ao se verem responsabilizados pelo episódio, os republicanos prontamente reagiram através de sua imprensa, passando a qualificar tudo aquilo de farsa engendrada pela