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A milícia cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850

A existência desse tipo de potentados não é aliás uma especialidade nossa. Para procurar outro exemplo, ocorre logo a lembrança daqueles "coronéis" do Kentucky e de outros lugares dos Estados Unidos, onde o símile é manifesto até na patente assumida pelos personagens. E isso leva a pensar nos possíveis modelos estrangeiros da Guarda Nacional brasileira de 1831, que tanto podia ter tirado sua inspiração da Garde Nationale como da National Guard. A questão há de parecer irrelevante à primeira vista, dado que uma e outra, a francesa e a norte-americana, procediam das mesmas matrizes revolucionárias, mas o certo é que, a partir desse ponto, a pesquisa podia levar a rumos imprevistos. Porque, se os princípios que as hão de reger são fundamentalmente semelhantes, parece fora de dúvida que a maior ou menor ênfase dada a tal ou qual princípio tem muito a ver com a estrutura das sociedades que irão suportá-las.

Assim, numa terra onde eram pouco pronunciadas relativamente as barreiras de classe ou, segundo um dito de Stuart Mill, onde toda gente pertencia à classe média, e é o caso dos Estados Unidos, muito embora fosse um país que admitia o trabalho escravo (mas os escravos, por isso mesmo que não tinham o estatuto de cidadãos, ficavam naturalmente excluídos da milícia cívica), o problema da composição das guardas nacionais ou o da sua distribuição entre comandantes e comandados, segundo o critério da aptidão para o serviço, independentemente de considerações relativas à linhagem ou ao prestígio social dos indivíduos, não devia esbarrar em imensas dificuldades. Outro tanto não parecia suceder na França onde se fazia sentir vivamente, ainda em 1830, a presença de pesadas hierarquias e onde, apesar da Revolução, o sonho da sagrada Égalité estava mais nas aspirações do que nos costumes. A esse propósito lembro-me de um Du Bousquier, personagem de Balzac em uma das Cenas da vida de província, o qual, sendo secretamente republicano, saudava, não obstante, no advento de Luís Filipe, a vitória dos ideais da Revolução. Para ele, a bandeira tricolor que revivia a Montanha, já simbolizava a liquidação final das ordens privilegiadas através de processos mais eficazes, porque menos violentos, do que a guilhotina, como se podia esperar das várias invenções legislativas de agosto de 30: supressão do senado hereditário, abolição dos morgados, mas, particularmente, criação da nova Guarda Nacional, que acabaria por juntar, sob a mesma tenda de campanha, o vendeiro da esquina com o marquês.

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