A milícia cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850

predominavam as relações pessoais e familiares, a barreira do preconceito, a desvalorização das formas mais simples de trabalho, lançaram mão de novos recursos. Passaram a defender o regime monárquico, que haviam ajudado a instaurar, valorizado pela prestação de serviços cívicos e patrióticos. A qualificação na milícia cidadã engajava-os como guardiães do Trono do Menino Imperador e agia como catalizador de energias - então cívicas e patrióticas - dirigidas, naquele momento, contra o adversário comum, vivo e presente: o português e tudo o que este simbolizava.

As obrigações do serviço ativo constituíam um pesado encargo para os cidadãos eleitores guardas nacionais, uma vez que eram alistados e qualificados entre a população modesta, produtiva e livre. O trabalho que realizaram foi árduo, oneroso e, em geral, anônimo. O que representou de penoso para a gente simples do interior das províncias ter de largar os afazeres profissionais, para servir gratuitamente à comunidade, fala-nos do esforço, desprendimento e mesmo do heroísmo dos cidadãos-soldados, principalmente ao considerarmos que o serviço público, por herança colonial, esteve ligado com muita frequência ao enriquecimento fácil e ilegal. Organizada por municípios - freguesias e curatos -, dada à imensidão do território, as grandes distâncias a vencer e os péssimos meios de transporte e comunicação, funcionou melhor a Guarda Nacional nos núcleos urbanos do que nos rurais. A milícia cívica, como corporação, não tomou consistência da realidade em certas regiões brasileiras pela ausência de condições de ressonância à sua imposição. Deve-se sobretudo dizer que cobrou a Guarda Nacional pesado tributo aos cidadãos-soldados que pagaram o seu tempo com o seu dinheiro e quantas vezes com o seu sangue.

O entrosamento dos serviços da Guarda Nacional na vida municipal criou estreitos liames com a população, favorecendo a sua futura utilização pelos poderes públicos provinciais. As modificações decorrentes do Ato Adicional afetaram profundamente a Guarda Nacional, anulando o principio democrático de sua organização e tornando-a poderoso instrumento das forças conservadoras. Essas transformações, realizadas no âmbito municipal e provincial, permitiram às forças políticas a utilização da milícia cívica como agente sectário. A transformação da Guarda Nacional de força paramilitar e policial em força político-partidária resultou de uma série de fatores dos mais diversos. As deficiências na organização material da corporação, naquilo que dependia da iniciativa e competência das autoridades, como seja treinamento

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