era convicção, quase geral, que o alistamento e a qualificação dos cidadãos-soldados entre aqueles que possuíam condições econômicas estáveis constituíam fator de equilíbrio social e político.
Contudo, a formação dos quadros com elementos das classes populares, a eleição de indivíduos socialmente desprestigiados pela cor ou por suas atividades econômicas, para cargos de liderança, abalaram a confiança dos que pensavam contar com uma força fiel à manutenção do status quo. O otimismo inicial não perdurou por muito tempo. Advertiu o ministro da Justiça, em uma proclamação à Guarda Nacional do Rio de Janeiro, que não era pelo fato de a Lei ter confiado armas aos cidadãos escolhidos que esses poderiam arvorar-se em inimigos da Lei, para seguir os próprios sentimentos, pois nesse caso, cairia o cidadão-soldado na senda das arbitrariedades, as quais seriam seguidas da anarquia ou despotismo, independentemente do pretexto sobre o qual pudesse apoiar-se. Terminava a autoridade por conclamar os guardas nacionais a continuarem a ser o apoio da Lei e a merecer a confiança dos seus concidadãos, a fim de não darem motivos à censura dos inimigos da ordem e da tranquilidade pública.
A Aurora Fluminense publicou inúmeros outros artigos sobre a Guarda Nacional, sempre dentro do pensamento da defesa nacional confiada a uma tropa de cidadãos interessados na manutenção da ordem e tranquilidade gerais.
As modificações posteriores na legislação da Guarda Nacional marcaram-na tão profundamente que apagaram a lembrança de sua origem e da ação popular e democrática que desenvolveu nos primeiros anos. Por outro lado, o Império brasileiro, na fase nacional da Menoridade, necessitava prestigiar e estimular a formação de uma elite ligada ao Trono e ao imperador, instituindo a sua nobreza. Embora a constituição de 1824 tivesse abolido todos os privilégios que não fossem essenciais e inteiramente ligados a cargos de utilidade pública, a Casa de Bragança foi pródiga em agraciar títulos nobiliárquicos às figuras mais representativas do I Reinado. Para substituir a falta de uma aristocracia de linhagem, criou-se outra, baseada num prestígio social. Da mesma forma, na concessão de títulos aos grandes do Império, os Bragança deram preferência àqueles menos importantes - barão e visconde -, nem sempre acompanhado de grandeza, talvez num empenho de diferenciar a nobreza nacional da europeia.
Apenas durante a Menoridade não se concederam títulos nobiliárquicos e, a fim de prevenir o fortalecimento de uma possível aristocracia de base territorial, foi suspenso o morgadio.