do que propriamente pelas disposições legais que permitissem ou não essa participação. Esta é uma das asseverações que aqui pretendemos mostrar. Em princípio ela parecerá talvez de meridiana clareza. Não obstante, a duração, os problemas que suas implicações econômicas encerraram, os reflexos que dela recebeu nossa civilização e as reações que lhe proporcionou, enfim todo o imenso complexo de relações humanas, econômicas, sociais, culturais e religiosas que decorreram da circunstância de estar o Brasil situado ao longo da Carreira é que reclamaram nossa atenção.
Surpreendeu-nos, ao longo da pesquisa bibliográfica, a parcimônia com que os cronistas se referem ao movimento de "naus da Índia" em nossas costas. Isso é talvez explicável pela sua preocupação de exaltar antes a exuberância da terra ou os feitos da sua conquista e defesa, do que as operações de rotina, como eram as dos portos, que embora tristes muitas vezes, e movimentadas, acabaram por tornar-se prosaicas, pela própria frequência.
A esse silêncio das crônicas contrapõe-se a documentação oficial ou particular, principalmente seiscentista e setecentista, provando a amplitude dessa função dos nossos portos, em especial o do Salvador, ainda que não nos permita, de maneira completa, responder a uma série de perguntas: Quantas naus realmente arribaram na Bahia? Quais os verdadeiros motivos que as levaram à ancoragem? Qual o montante de suas transações lícitas e ilícitas? Quais os contatos humanos que proporcionaram? Como se procedia ao querenar? Quais os vestígios que esse secular intercurso deixou em nossa colonização? Como foi assinalada a nossa presença na África e no Oriente, através dessas relações? Quais as mercadorias orientais que, realmente, tiveram maior aceitação entre nós, e até que ponto marcaram a nossa cultura? Qual o montante de capitais privados da colônia que foram invertidos na Carreira da Índia? Até que ponto o Rio de Janeiro competiu com a Bahia em relação à Carreira, depois da mudança da capital?
Nossa tentativa de responder a tais questões, embora não chegasse a produzir certezas matemáticas, significou um esforço de reconstrução e interpretação do fato histórico, em termos que nos permitiram as conclusões atingidas.
A designação de Carreira da Índia, aceita para o título do trabalho compreende o roteiro e os navios portugueses, oficiais ou particulares, que dele se serviram no desenvolvimento