1
O porto do Brasil
"... pareceu que nosso Senhor milagrosamente quis que se achasse porque é mui conveniente e necessária à navegação da Índia." (D. MANUEL, Carta aos reis católicos, datada de Lisboa, em 28 de agosto de 1501).
O ciclo atlântico de navegações iniciou-se sob a hegemonia portuguesa só após longos ensaios com os quais a pequena Nação ibérica se amadurou nas coisas do mar, para depois estender seus interesses sobre mais três continentes, em singular mobilidade que contrastava com o limitado contingente humano de que dispunha.
Da extensa rede de portos, que manterá em sua empresa ultramarina, distribuídos pelas costas europeias, africanas, americanas e asiáticas, o do Salvador, na Bahia, terá excepcional papel. Será mesmo uma segunda capital do Atlântico português. "Porto do Brasil", denominavam-no os documentos do tempo, como se não houvesse outro ancoradouro em toda a Colônia.
Nesse sentido, poder-se-ia objetar que essa designação só ocorreu depois da Carta Régia de 13 de junho de 1621 pela qual fora criado o Estado do Maranhão, separado do Estado do Brasil para não suscitar confusões com os portos mais ao norte. Entretanto, achamo-la já consagrada em documentos anteriores a 1621.
Salvador começa a projetar-se como porto de escala para a Carreira da Índia a partir da segunda metade do século XVI, quando a Marinha portuguesa mostrava acentuados sinais de decadência.