Não somos os primeiros a abordar o tema da medicina popular em nossa pátria, queremos, porém, situar a nossa colaboração no seu devido terreno: Medicina Rústica é o resultado de uma pesquisa realizada por um estudioso, afeito aos temas folclóricos e que deseja dar sua modesta contribuição à antropologia social e a medicina como ciência aplicada. É um esforço principalmente para aplainar os caminhos de compreensão que os muitos médicos palmilharão ao entrar em contato com as classes destituídas, incultas de nossa sociedade, quer nas cidades grandes, quer nas zonas rurais brasileiras, para onde em geral se dirigem os recém-formados. Por outro lado, com este trabalho queremos fugir de sermos catalogados entre os muitos folcloristas que trataram deste assunto como sendo "superstições, exotismos, práticas abomináveis". Para nós, as práticas da medicina popular necessitam melhores observações e não podemos destacá-las pura e simplesmente sem estudar o seu contexto cultural, sem participar da vida, da interação daqueles que nos deram os informes ou principalmente os vimos praticando, enfim, vivendo as experiências por nós anotadas. Nisto está a diferença entre o folclorólogo e o folclorista. O "folclorista" — e os há muitos — apenas registram a "curiosidade", o "exotismo" e não cogita de saber a sua função social.
Poderão incorrer em erro os médicos inexperientes não aceitando como ponto de partida certas atitudes de seus clientes e desprezar algumas práticas, como, por exemplo, o uso do chazinho. Jamais poder-se-á esperar que de pronto o caboclo mude toda sua cosmologia para aceitar o que lhe determina o médico. Tal é trabalho moroso e implica noutros problemas a serem resolvidos em nossa Pátria como o analfabetismo, educação, assistência social, etc.
Além de ser um processo demorado, exige da parte do médico uma atitude de receptividade e compreensão