A pesquisa histórica no Brasil

Só deste modo, nesta escolha - e toda a história é escolha(42) Nota do Autor -, é que o historiador constrói a história, evita a crônica e destrói a história factual reduzida a uma coleção morta de fatos, de nomes, datas, títulos e cargos oficiais. Só assim ele combate a idolatria do fato, como escreveu Lucien Febvre.

6. O julgamento. A presunção

Feita a escolha, construída a história, nela está implícito o julgamento. Todo historiador julga, e esse é seu dever primário. Vimos que na própria raiz da palavra grega que deu origem ao vocábulo história (histor-histõr = juiz)(43) Nota do Autor está a ideia de julgamento. Mesmo quando o historiador não possui todos os elementos de convicção, por deficiência de provas - como é usual na história contemporânea -, ele deve fazer um julgamento, ainda que provisório. Se não é possível estabelecer-se uma presunção de direito (iuris), pode-se fazer a hominis (pessoal), ou a de fato, conforme estabelece o Can. 1825-1826 do Direito Canônico. A presunção de fato - a que nos interessa aqui - é aquela pela qual os fatos seguintes presumem os precedentes ou os futuros.(44) Nota do Autor

Muitas vezes não possuímos prova documental - e tantas outras vezes nunca a possuiremos -, mas são tantos os indícios, que a presunção pode firmar-se, embora sob forma leve, grave ou gravíssima, como também pode ser temerária, e, como tal, rechaçada; pode, ainda, ceder à verdade, quando descoberta (presumptio cedit veritati), ou provada (probatio vincit presumptionem). Muitas vezes não há provas - porque não há acesso aos documentos (reservados, confidenciais, secretos), mas outros fatos equivalentes, no caso, às provas, fazem presumir a verdade. Neste caso - e na pesquisa isto é comum -, os fatos servem como "chaves", tal como nas estórias policiais de Sherlock Holmes, quando cinzeiros usados, manchas de sangue, objetos deslocados fornecem a pista.(45) Nota do Autor Os fatos servem como indícios, circunstâncias agravantes da pressuposição, anterior à convicção e à certeza;(46) Nota do Autor servem como quase-prova.

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