Eça de Queirós, agitador no Brasil

que tratavam do assunto, pela agitação político-social dominante. Em documentos oficiais que o autor recolheu e transcreve, As Farpas aparecem como instrumento do terrível dissídio que, entre lusitanos e pernambucanos, se traduziu em páginas de rancor e de sangue.

É curioso como a sátira eciana, deixando-se envolver diretamente pelos fatos, agravava, de longe, uma situação que, em última análise, era cada vez mais vexatória para os portugueses. Eça de Queiroz chegou a se mostrar indignado com a interpretação, já então oficial, que se dava, em Pernambuco, à sua crítica social e política, atirando a responsabilidade dos acontecimentos à incompreensão que o longo domínio de Portugal trouxera e ao sentimento de desforra que irrompeu depois da Independência. O assunto animou a imprensa, eriçando-se em polêmicas azedas que refletem, de um lado, os extremos da linguagem e, do outro, os impulsos emocionais a que os fatos imprimiam um tom dramático que vinha, naturalmente, da violência das soluções!

Esse aspecto da presença de Eça de Queiroz conservava-se inédito na documentação até então manuseada para o estudo da sua influência no Brasil. Os historiadores dos nossos movimentos liberais não surpreenderam o traço vivo da sua atuação, que não chegou a ser propriamente de agitador, como pretende Paulo Cavalcanti, mas foi, sem dúvida, de um panfletário apaixonado e ardente, capaz de suscitar no espírito pernambucano indignações incontidas pela maneira como As Farpas analisavam a perigosa conjuntura histórica que então se criou.

Cabe, sem contestação, a Paulo Cavalcanti a primazia de, como velho eciano fascinado por todos os aspectos da obra e da vida do romancista lusitano, haver realizado uma penetrante e paciente pesquisa de que resultou revelada nova feição, algo surpreendente, da

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