dos anos de 1816 a 1848, do que todos os compêndios dos historiadores, economistas e estatísticos profissionais da época.
Os romances de Eça têm o mesmo cunho de repositório da vida portuguesa dos fins do século. E o senso de realismo, com que soube forjar sua obra, pressupunha no homem um sério conhecimento dos valores sociais.
Tomando da arte os objetivos mais restauradores, fez de seus livros "um instrumento de experimentação social contra os produtos transitórios que se perpetuam além do momento que os justificou, e que - na sua opinião - de forças sociais, passaram a ser empecilhos públicos".
As letras portuguesas, antes de Eça, não se haviam ajustado às mudanças do tempo, contrafazendo-se, diante dos homens e das coisas, na adoção de rígidos princípios de uma falsa legalidade, quase subserviente a tudo quanto se relacionasse à chamada ordem estabelecida. "É muito bonito - proclamava Eça, com sarcasmo - falar na ordem, no respeito à propriedade, no sentimento de obediência à lei, etc., mas quando milhares de homens vêem as suas famílias sem lume na lareira, sem um pedaço de pão, os filhos a morrer de miséria, e ao mesmo tempo os patrões prósperos e fartos, comprando propriedades, quadros, apostando nas corridas e dando bailes que custam centos de libras, bom Deus, é difícil ir falar aos desgraçados de regras de economia política, e convencê-los de que, em virtude dos melhores autores da ciência econômica, eles devem continuar por alguns meses mais a comer vento e aquecer-se à cal das paredes".
Como intérprete dessa realidade, distanciando de sua arte os métodos anacrônicos de expressão, Eça de Queiroz influiu poderosamente na literatura brasileira, nos dias em que o romantismo começava a assumir as feições de "empecilho público".
As palavras de Alberto de Oliveira, o escritor português, traduziram muito bem o impacto dos romances de