Eça de Queirós, agitador no Brasil

Eça sobre a cultura luso-brasileira, naquela fase de buscas e esforços em favor de uma literatura autônoma e característica: "As nossas Letras moravam e mofavam num velho casarão mal arejado; e, apesar de já iluminadas pelo gênio rebelde de Camilo, estavam sem direção. Eça de Queiroz abriu-lhes janelas para o sol e o ar livre, varrendo delas, como bolor, todo o contacto ou vestígio de antiguidade. Esta foi a sua obra demolidora e de reação, filha das circunstâncias, filha também da moda"(1). Nota do Autor

Antes de Eça, o domínio do liberalismo na arte, como definiu Victor Hugo ao romantismo, condicionara as letras brasileiras à repetição de chavões artísticos importados, de escolas, de tendências, em que, muitas vezes, o escritor se excedia na afetação das ideias, tentando superar a falta de sentimentos pela presença de uma linguagem empolada. Verdade é que, a par de valiosas manifestações de autonomia cultural, em obras de conteúdo e forma nacionais, o romantismo no Brasil possuíra quase exclusivamente os "chorões reais", a que se referira Sílvio Romero.

No período de sua decadência, porém, o transbordamento, sem rumos, da criação artística dera lugar a absurdas conceituações de valores. Era a época dos exibicionistas da genialidade, dos demolidores, dos que, preocupados com a avalancha do novo, se distanciavam, extravagantes e arbitrários, das bases sociais do pensamento.

O maior argumento desses "maganos", para Sílvio Romero, era a mocidade: "Em vez de idéias, de doutrinas, de sistemas, de teorias... enrolavam-se na certidão de idade e investiam contra a gente descuidada"(2). Nota do Autor

Nesse momento, surpreendeu-nos Eça de Queiroz, "o escritor de seu tempo, desprendido de todas as superstições"

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