Eça de Queirós, agitador no Brasil

diante do ridículo, em toda essa múltipla e variada gama de "ecianismo", que o tempo só faz aprimorar.

Ninguém demarcou, ainda, no estudo de suas influências, a que exerceu sobre grande massa de leitores, nas camadas intermediárias da sociedade brasileira dos fins do século, que o tomava como modelo de renovação estética, seguindo-lhe os gostos e as preferências, retendo de memória as situações dos romances, os nomes dos personagens, adaptando aos tipos humanos do momento - o político, a figura do Ministro de Estado, o sacerdote, o comendador, a dama dos salões de concerto - as características que Eça de Queiroz animou no povoamento de sua obra. "Havia quem recitasse de cor páginas inteiras desses livros. As passagens dos Maias, as suas graças mais fulgurantes, as suas figuras mais típicas, eram repetidas, comentadas, glosadas tão excitadamente pela mocidade do Rio de Janeiro, de São Paulo ou do Recife, como pela de Lisboa, do Porto ou de Coimbra"(4). Nota do Autor

A "bomba literária e moral" que explodiu na terra lusa à aparição do Primo Basílio, ou o "escândalo branco" que envolveu o surgimento do Crime do Padre Amaro, anunciaram, de igual modo, no Brasil, os livros de Eça. É de imaginar-se a reação contrastante do leitor, afeito às suaves narrações do romantismo - os personagens, como as emoções, colocados em seus devidos lugares, o romance a deslizar, comprimido, entre a pureza da forma e os indulgentes conflitos dalma - e o aguçamento instantâneo da vida, em Eça, a suscetibilidade encrespada, o ridículo estuante das situações, a gargalhada, o escárneo, as paixões incontidas, o tumulto, numa arte "capaz de traduzir em todos os matizes as novas realidades que ele intimamente se sentia chamado a exprimir"(5). Nota do Autor

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