Eça de Queirós, agitador no Brasil

Deus. "Era ele! Alto, esguio, vestido de luto pesado, com um chapéu alto de grande copa que ainda lhe prolongava a estatura, umas lunetas fumadas (em vez do esperado monóculo) velando-lhe os olhos, no rosto uma palidez de marfim velho, uma harmonia acabada no seu vestuário como nas linhas e movimentos do seu corpo, e um porte ao mesmo tempo olímpico e vencido, desdenhoso e resignado, irônico e melancólico, que na ocasião me fez pensar na frieza e altiva tristeza dos ciprestes"(9). Nota do Autor

O interesse pelo escritor ultrapassava os limites da mera curiosidade artística. Aos que visitavam Portugal, indagava-se, de pronto, ao regresso, se vira Eça, em pessoa, ou a Casa Havanesa, ou o Café Martinho...

Depois de sua morte, os lugares de Lisboa referidos nos seus livros associavam-se-lhe ao nome e à própria memória, recordando cenas de romance, vivificando diálogos e personagens, nas cores novas que ele emprestara ao lusitanismo.

José Veríssimo, duas décadas após tê-lo visto num sarau do Teatro Trindade, ao lado de Ramalho, não podia esquecer o seu tipo - "alto, esguio, menos magro do que ficaria depois, apuradamente vestido à inglesa, o seu monóculo fixo entre o nariz de águia e o olho bem aberto, penetrante, impondo-se à minha juvenil admiração matuta, de provinciano brasileiro recém-chegado"(10). Nota do Autor

Durante anos a fio, o culto a Eça de Queiroz far-se-ia sentir, no alento das reedições de sua obra. O pernambucano José Maria Belo, em 1945, confessava, enternecido: "Lembro com saudade, a saudade com que um dia repeti em Rouen o itinerário de Ema Bovary, das vezes que perambulei, há vinte anos, pelo Chiado, por Belém, pelas Janelas Verdes, e refiz o caminho de Sintra, a reviver"

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