vendendo carne de porco aos vapores que atracavam no porto da capital de Pernambuco, nasceu Antônio Leal de Barros, pai de Joaquim Cavalcanti Leal de Barros, professor do velho Ginásio Pernambucano, no Recife, de cujo consórcio com Maria Carmelita Lins veio à luz o Ministro João Alberto Lins de Barros.
Não se pode excluir a hipótese de Ana Joaquina ter sido filha de uma escrava, Ana Maria da Conceição, com o português Joaquim Leal de Barros.
Na primeira fase de sua vida no Brasil, muitos portugueses se juntavam maritalmente a negras ou mulatas, que os ajudavam a enriquecer, desempenhando os mais duros labores do dia. Depois, endinheirados, contraíam casamento com mulheres brancas, que lhes adotavam o nome de família. Joaquim Leal de Barros poderia ter mandado para Portugal o produto espúrio de seu amores no Recife - Ana Joaquina Leal de Barros - a que seria, no futuro, madrinha e mãe de criação de Eça de Queiroz.
Quaisquer que sejam, porém, as especulações a respeito das origens familiares da costureira de Vila do Conde, o certo é que Eça aprendeu a falar português em sotaque brasileiro, ouvindo, nos quatro anos de sua convivência com Ana Joaquina, as canções de ninar e as histórias infantis do Nordeste brasileiro. Ninguém pode subestimar a influência exercida pela pernambucana Leal de Barros na formação da linguagem e do estilo de Eça de Queiroz, cujos processos de expressão literária representaram para Portugal uma verdadeira revolução nos cânones do idioma. Algumas das características da prosa "eciana" - o apego à sonoridade das palavras, a colocação antilusitana dos pronomes, a tendência à espontaneidade das expressões, indo até a mudanças na estrutura da língua - podem ter decorrido dessas influências, na meninice do escritor.