como na capital da República; a sua figura tomou na imaginação popular a configuração de um mito; fala-se dele como se não fosse um homem, mas uma entidade de outra natureza. Os letrados poderão analisá-lo ou discutir-lhe a obra; o povo, sem precisar conhecer essa obra, vota-lhe um sentimento místico. De concreto, o homem do povo sabe apenas que ele está ligado ao mapa do Brasil. O resto é a adivinhação, o instinto, a escolha misteriosa a fazer dele um grande homem.

Não se poderia compreender a posição de Rio-Branco no sentimento popular por intermédio de explicações ordinárias. Ela não é apenas um resultado dos seus atos, mas o espetáculo da identificação de um povo com um homem. Estabeleceu-se entre ele e o país uma corrente misteriosa de ligação. Os brasileiros exprimiam, pela pessoa de Rio-Branco, o anseio de vitória, de expansão, de glória de um povo jovem. E o Barão revelou toda a medida da consciência desse papel histórico quando se despersonalizou na sua obra, quando renunciou à vida pessoal ou de partido para integrar-se de todo na vida nacional até se confundir com ela.

O povo amava-o sobretudo por essa renúncia. Via nele, na sua carreira, os sinais da predestinação, da criatura marcada pelo Destino. Distinguiam-se na sua existência as quatro fases determinadas para um só objetivo. A princípio, o aprendizado político, a passagem pela Câmara, a experiência das lutas partidárias; depois, o silêncio, os longos anos de estudos desinteressados, a capacidade de preparar-se e esperar na penumbra; em seguida, a aplicação dos estudos em duas questões de limites, o nome que aparece de repente como o de um grande servidor do país, a confiança da nação no seu valor até então insuspeitado; por fim, a obra política e diplomática do ministro de Estado, a glória em toda a sua grandeza.

Na mocidade, Rio-Branco tinha escolhido Ubique Patriae Memor para sua legenda. Não fora apenas uma frase: ele se lembrara da Pátria em toda a parte. E a retribuição ser-lhe-ia conferida de modo completo: a Pátria ficaria a lembrar-se dele em todos os lugares e em todos os tempos.