públicas, que outros povos sul-americanos só haviam suportado um século antes.

Na vida internacional, as guerras nos Balcãs já anunciavam a grande guerra de 1914. Acabava o mundo do século XIX, com a sua confiança no Direito, com a sua base jurídica e legal, com o seu respeito à dignidade da pessoa humana, com a sua fé nos tratados e ajustes internacionais, com o seu amor à paz. Começava um novo mundo, com os mitos de violência e força, com a exaltação dos fatos contra os códigos, com o desprezo às leis e tratados, com o doentio e desesperado apetite de guerra.

Imobilizado pela morte, Rio-Branco renascia em símbolo, numa fixação intemporal, para se prolongar em nova época, mais próxima da herança política que havia deixado com a sua obra. Pois a grandeza humana é um fenômeno misterioso. Não vem só dos atos e feitos, mas de um julgamento, de uma eleição do povo(754). Nota do Autor Nunca se sabe exatamente porque motivo as raças e os povos escolhem e determinam os seus nomes representativos. Mas isto sempre acontece através de uma correspondência íntima entre o espírito coletivo e um espírito individual. Cada povo se sente refletido e retratado em alguns homens representativos, e são estes os seus grandes homens.

Sem isto, inexplicável seria a glória de Rio-Branco; ou a sua popularidade. Os seus processos políticos não eram de agitação e demagogia; os seus livros versavam assuntos especializados e sem comunicação com o grande público; a sua obra se fazia nos gabinetes, alheia aos movimentos das multidões, com o caráter diplomático que significa quase sempre reserva e discrição. Por que se tornou tão popular uma figura de feitio tão aristocrático, com uma obra tão inacessível ao conhecimento e apreciação do grande público? Bem poucos, na verdade, examinaram e estudaram os escritos e os feitos de Rio-Branco. E não obstante nenhum outro nome rio Brasil obteve um culto igual: em quase todas as pequenas cidades do interior, a rua principal ostenta o nome de Rio-Branco,