temos a prova. O tráfico negreiro trouxe para cá numerosas tribos ou etnias que, apesar dos deslocamentos de população na África, não tinham o hábito de estar normalmente em contato. Mesmo quando a miscigenação as misturou por meio da união sexual, ainda assim estas etnias não se fundiram umas nas outras, conservando cada qual, apesar de tudo, certo número de traços culturais irredutíveis e agrupando-se em "nações". Na Bahia não existem mais hoje indivíduos ewe, iorubá, angola ou congo, mas estas "nações" todavia sobreviveram sob a forma de candomblés, ritualmente ou musicalmente diferentes. Assim como tinham os indivíduos pensado sobre a coexistência e as relações das coisas, foi preciso, no Brasil, pensar sobre a coexistência e as relações dos povos. Pois bem! Adotaram os negros para tal esta genealogia matemática de que falamos, podendo-se dizer que ela constitui uma primeira tentativa de sociologia africana. Apolinário Gomes da Mota, falando da "vassoura de Nanã-Buruku", formada de raminhos reunidos por uma tira de pano em que estão costurados búzios, conta que o número dos búzios indica a "nação": "O nagô deve ter 12 búzios, o gêge deve ter 8, o congo deve ter 16, o xamba deve ter 12."(19) Nota do Autor Não se pode mostrar de maneira mais clara que a numeração é um processo operatório que age e não simples mística cristalizada, uma vez que é aplicada aos fatos novos de maneira a permitir que se possa pensar a respeito destes.
Um último método utilizado é o do pensamento simbólico. Os compartimentos em que se divide a realidade podem ter sido separados, manifestando-se a divisão pela diferença dos sacerdócios; tais compartimentos estão também estratificados e se refletem uns nos outros. Uma série de correspondências liga instrumentos de música, composição do santuário, ervas do campo, etc., e