O candomblé da Bahia: rito Nagô

gestos das divindades. O presente nada mais faz do que repetir o passado, e até os acontecimentos da vida humana, à primeira vista imprevisíveis, se desenrolam em quadros fixados pelos Orixá e traduzíveis em odu. Até mesmo a psicologia, o caráter dos indivíduos, reproduz aqui na terra a diversa psicologia das divindades.

Este sistema de correspondências em parte se desagregou no Brasil, tanto no domínio das técnicas, pois foi preciso adaptar-se aos métodos ocidentais de trabalho - quanto no domínio da organização social -, a escravidão tendo fragmentado as estruturas africanas, colocando lado a lado as mais diversas etnias. Foi principalmente no capítulo do êxtase que vimos a importância do simbolismo. E mesmo se os negros da Bahia não oferecem, no que tange à sistematização, um modelo tão rigoroso ou tão completo quanto o dos Dogon, seu exemplo tem pelo menos o mérito de provar que o simbolismo é operação lógica viva. Arrancado à sua terra e transportado para um mundo desconhecido, o africano conseguiu trazer consigo ou fazer vir de seu país certa quantidade de plantas sagradas; pôde também encontrar de um e de outro lado do Atlântico certo número de plantas idênticas; não deixou, todavia, de ter de se adaptar ecologicamente a uma flora particular. Tanto mais que o Brasil engloba em sua imensidão regiões botânicas diferentes: ao ser vendido de uma província do norte para uma província do sul, encontrava-se o negro em presença de "ervas" diferentes (e esta venda constitui uma regra depois da extinção do tráfico negreiro, que se deu justamente no momento em que o sul tinha necessidade de mão de obra para suas plantações em pleno desenvolvimento). Para agir, isto é, para tratar de seus doentes ou para preparar os banhos das candidatas à iniciação, era preciso primeiro "refletir" sobre um mundo vegetal novo. E foi aplicando o esquema

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