O candomblé da Bahia: rito Nagô

contatos muito íntimos com os fiéis dos candomblés, pois de outra forma não teria transformado a religião deles numa espécie de idolatria. Para fazer trabalho etnográfico, não basta descrever os ritos ou citar os nomes das divindades; é preciso também compreender o significado dos mitos ou dos ritos. Qualquer erro de psicologia pode corromper gravemente o valor dos fatos descritos, e foi o que aconteceu ao Padre Brazil.

Daí a importância da obra de Arthur Ramos. Este último considerou-se continuador de Nina Rodrigues e, a partir de 1932, começou a publicar uma série de artigos e de livros sobre as sobrevivências africanas no Brasil. Se nos detivermos apenas no material recolhido, não trazem eles talvez muitos elementos novos sobre os candomblés da Bahia, em comparação com os que já tinham sido divulgados. Seu mérito está antes de mais nada no método. Arthur Ramos desprendeu-se de todo e qualquer preconceito quer de raça, quer de religião. Ensinou aos africanistas brasileiros o valor da objetividade científica. Também trouxe sem dúvida uma interpretação, efetuada através de teorias psicanalíticas; mas teve o grande cuidado de separar radicalmente a descrição dos fatos da interpretação que deles dá em seguida, à parte. Conseguiu também despertar em muitos jovens o interesse por tais pesquisas e, pelo menos durante o período que vai de 1933 a 1940, pôs em moda o estudo das sobrevivências africanas na civilização brasileira; mostrou a necessidade de não separá-lo nem das descobertas feitas pelos etnógrafos, tanto na África quanto noutras partes da América, nem das teorias gerais da antropologia cultural norte-americana. Seus discípulos, à frente dos quais colocamos Édison Carneiro, foram levados a continuar o trabalho, efetuando novas pesquisas de campo, e trouxeram mais dados que completam a imagem da vida nos candomblés.

O candomblé da Bahia: rito Nagô - Página 9 - Thumb Visualização
Formato
Texto