Lutas de famílias no Brasil Colonial: introdução ao seu estudo

entretanto, progressivamente, os fatores de consolidação do poder político, não tanto pelo enfraquecimento do poder privado mas, essencialmente, pela fusão das duas ordens - o que foi a coluna mestre da monarquia. Como nunca, poder econômico e poder político se identificaram.

Desse fato é que decorreu o que Dunkmann chamou "antinomia fundamental", desde que a "ordem legal" havia de ilegalizar qualquer outra esfera de autoridade que lhe contestasse o poder e o mando - quando, por outro lado, nesses núcleos fortemente enraizados de poder privado é que ia encontrar a sustentação e o apoio efetivos.

Na prática, então, o que se verificou foi a diluição do laço de sangue da família patriarcal em outros laços de solidariedade que englobavam grupos maiores - de dependência, de compadrio, de compromisso e aliança eleitoral, de caudilhismo, de coronelismo - o que transportava, da família para a "parcialidade", estendendo, e enfraquecendo ao mesmo tempo, o quadro em que funcionava a solidariedade privada. A teoria e a prática de um precaríssimo sistema representativo iria colorir de tintas que ainda estão frescas os novos aspectos e as novas manifestações do fenômeno.

Desaparecido quase inteiramente o poder normativa da vingança privada, que passou a viver como sobrevivência - antes surgira como revivescência - ela conduz, por sua deformação inevitável, ao seu contrário - o desrespeito à norma. Deixa de ser fator de ordem para tornar-se germe de desordem e de mantenedora da segurança e do equilíbrio sociais, transforma-se em sua negação.

O estudo, que um dia pretendemos completar, das lutas privadas entre Lisos e Cabeludos, nas Alagoas, entre Militões e Guerreiros, de Pilão Arcado, entre Araujos

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