Jean-Baptiste Debret

governo, contemplar um dia entre eles personagens tidos como de origem divina. Chegara a realeza, revestida dos paramentos de império dono de consideráveis territórios na Guiné, sul da África, Brasil, Uruguai, Guiana francesa, presídios no Atlântico, Índico e Pacífico, onde outrora se abasteciam as caravelas do Venturoso para a conquista do mundo colonial. O conjunto era digno de inveja das maiores potências do momento, ufania de Príncipes considerados a princípio figuras mitológicas, agora vistos de perto, em carne e osso pelos americanos.

Depois de escala na cidade do Salvador, preterida nas esperanças de voltar a ser sede do Brasil, aportaram corte e séquito no Rio de Janeiro antes da conclusão dos preparativos para receber a realeza. Decorreu o desembarque em meio de transportes de alegria dos coloniais e lamentos dos reinóis, uns inebriados pela nova condição, outros deprimidos pela perda dos lares, mal-estar e desconforto, onde tudo era incerto, do alojamento às funções palacianas improvisadas em antigas repartições, conventos e chácaras. Nos meses seguintes, tornou-se cada vez mais árduo acomodar na cidade o contínuo afluxo de europeus atraídos à nação oficialmente denominada em 1815 Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Nesta altura, deu-se fato de maior importância para a antiga colônia, assim como para a antiga metrópole. Enlevou-se o Regente com a nova sede do império luso, empolgado pela grandiosidade do quadro em que até a selvageria expressa pela aldeia de índios de Magé, a pouca distância do Paço da cidade, parecia-lhe preferível ao convívio com lisboetas gafados por ideias subversivas.

A predileção - não partilhada pela esposa e maioria dos cortesãos - encontrou apoio na atividade de ministros sabiamente escolhidos desde que D. João assumira a regência do reino. Prosseguiu na América o mesmo ritmo progressista instituído sob D. José I e intensificado pelo neto. Impelidos graças ao incentivo do amo na procura de desenvolvimento, desdobravam-se homens eminentes como D. Rodrigo de Sousa Coutinho e Antônio de Araújo, inclinados à realização de planos por vezes desmedidos que transitavam de alto a baixo da máquina administrativa. Não houve setor que escapasse a inovações, reformas, ampliações e por aí além, destinadas ao estímulo de levas imigratórias, produção, vias de acesso, ensino e devassamento de zonas desconhecidas da imensidade brasílica, tida por detentora de riquezas prodigiosas. Infelizmente também participava a política joanina de acesa porfia acerca dos limites no sul, maléfica herança deixada pelos reinados anteriores.

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