Jean-Baptiste Debret

No período compreendido entre as descobertas das minas, denominadas gerais, e a Independência, é erro supor tenha sido o grão-vizir Pombal o único operoso agente da coroa, caída ao depois em modorra por falta de administradores capazes de dirigi-la. Muito pelo contrário, ao invés de serem empecidas tentativas de melhoria nas condições do reino, prosseguia contínua a atividade dos ministros, debilitada, entretanto, a partir de meados do século XVIII, pelo esgotamento das jazidas auríferas brasileiras. De modo algum ocorreu desídia do governo de D. Maria I no colapso que golpeou a monarquia, porquanto nunca houve tanta atividade para remediar a situação como naquele reinado. Incidiam, até, em excessos continuados na América, nem sempre benéficos, conhecidos a propósito, os remoques de D. Carlota Joaquina. Mostrava-se a Princesa, durante a permanência no Rio, aflita por tornar ao reino, infensa para mais a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, desvelado colaborador do Regente, ministro por ela alcunhado Dr. Torvelinho, Dr. Trapalhada ou Dr. Barafunda. Tinha alguma razão a turbulenta senhora quando assim se exprimia a respeito do alude de resoluções administrativas, cujo aspecto torrencial colidia com dificuldades de crédito insanáveis, cúmplices das boas intenções que, segundo todos nós sabemos, prodigamente calçam o inferno.

Falecido o ministro mal visto pela ambiciosa filha de Carlos IV de Espanha, sucedeu-lhe Antônio de Araújo, conde da Barca, igualmente ativo e amigo de novidades. Era, em política, contrário ao antecessor, pelo fato de ser partidário de franceses propagadores de novos métodos e sistemas administrativos, a despeito das agruras que curtira aprisionado no Templo, em risco de morrer no patíbulo nos dias do Terror Vermelho. Dividia-se então a corte em "afrancesados" e "inglesados", alternadamente no governo segundo o rolar dos acontecimentos. De qualquer maneira, mostrava-se Araújo não menos diligente do que Linhares, incansável em estimular o progresso do refúgio transmarino da corte. Impressionado pelo atraso e descaso pelo belo num paraíso de portentos naturais, onde só se pensava em assuntos materiais, cuidou de atrair missão estrangeira para incentivo das artes e ofícios. Competir-lhe-ia melhorar o aspecto da cidade e o gosto dos habitantes, em que tanto brasileiros como reinóis pareciam arredios à cultura superior. No intuito visava, quem por longos anos vivera nos mais adiantados centros da Europa, elevar, a poder de ensino e convivência com mestres proficientes, o pouco lisonjeiro nível da classe mandante, mal instruída, dominada por superstições, imersa em beatério e mais defeitos suscitados por atraso inadmissível

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