Jean-Baptiste Debret

as preciosidades ao novo Museu da República, no antigo palácio do Louvre. Noticiava a propósito o jornal oficial que se iniciara "a presença numa terra livre dos monumentos arrebatados ao domínio da servidão". Seria o caso de dizer, de acordo com nossa época atual, useira dessas transposições, "Non nova, sed nove... "

Recluso no Calpe, em viagem com os mais artistas, o erudito latinista Lebreton, egresso do clero, e que ocupara cargos de destaque no meio cultural durante a tormenta revolucionária, não esqueceria os fastos do passado, quando participara da fundação de academias e museus, nem as contendas, os dissabores e inimizades daí decorrentes. Adquirira o Institut de France - cenáculo ideado para incentivo de artes e ciências - notável vulto com a entrada em seu seio de Napoleão, o qual em pessoa modificou estatutos e lhe conferiu organização definitiva. Infelizmente a medida veio a ser fonte de desentendimentos, quizílias, melindres, repetidos ad infinitum no jângal artístico agrupado em torno de favores oficiais. A certa altura faltou a Lebreton nas funções de secretário perpétuo o apoio de N. A. Taunay, motivo de violento choque entre o ex-padre e o célebre David, primo, amigo e protetor de Debret, por causa da distribuição dos prêmios no Salon de 1809. Era inevitável o embate do secretário com a sumidade do tempo, desfecho de longa série de incidentes, iniciados muito antes, fato de desmedida importância para o primeiro dos desavindos, ressentido contra os que não o tinham socorrido na contenda. A demora da forçada convivência durante a viagem reacendia velhas dissensões, que abrangiam antigos protetores, protegidos, amigos, inimigos e parentes, no correr de incômoda e forçada vizinhança.

Logo mais no Brasil surgiram reflexos de semelhante situação, com efeitos duradouros, a se manifestar justamente quando os missionários mais lucrariam em se manter unidos. O meio de onde saíam era reduzidíssimo. Pertenciam os artistas, contratados em Paris, à categoria hoje denominada petits-maîtres que, no entanto, não afeta o elevado preço de suas obras no mercado internacional. Colaboraram, ademais, na elaboração de estilos da época, favorecidos pelas prodigalidades dos últimos soberanos absolutos da França. No grupo assumira destaque Nicolau Antônio Taunay, cujos trabalhos são atualmente disputados em leilões europeus e americanos. Divergente da maioria dos confrades, o paisagista não se entusiasmou pela revolução, mas enlevou-se por Bonaparte, restaurador da ordem benéfica às artes, diretamente interessado no auxílio a artistas. Da gratidão ao aventureiro prende-se a vinda

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