escopo a embriaguez produzida por retumbantes vitórias, cegadas as multidões pelas notícias dos soberanos da Europa ajoelhados diante do vencedor de Iena e Austerlitz. Fácil avaliar o que sucedeu depois aos bonapartistas. A queda do corso vencido pelo inverno russo foi tremendo golpe para o pintor, até então mais bafejado pela sorte do que propriamente pelo talento. Nas encomendas recebidas intervinha o prestígio do primo e no favor oficial o assunto do quadro. O fim do Império destruía essa situação sem deixar compensações. Agravou-se ainda o travo sofrido por Debret na ocasião pela perda do único filho, rapaz de altas qualidades, cuja falta o mergulhou em profundo desalento. Aconselharam-no David e outros parentes e amigos, afligidos pela sua prostração, que aceitasse ir à Rússia em companhia de Grandjean de Montigny. Neste comenos, apareceu Lebreton na qualidade de ex-dispensador de favores oficiais, ansioso por constituir o mais rapidamente possível a missão para o Rio de Janeiro, portador de convite preferível ao da gélida Rússia, cujo inverno pouco antes fora fatal à Grande Armée.
Ocorria nesta altura o paradoxo de se estabelecer competição entre os antigos adversários de Bonaparte, interessados em atrair os artistas que mais lhe tinham servido a propaganda. Saíra engrandecido o prestígio da França das lutas que tinham tingido de sangue a Europa, com o efeito de repercutirem até em longínquas paragens modas e estilos artísticos de Paris. Encomendava a corte portuguesa móveis ao ébéniste Jacob Esmalter para a residência de D. Pedro, na Quinta da Boa Vista, tal como praticara o conde Palffy, o mesmo que no momento viajava em São Paulo, e os perdera juntamente com o seu palácio em Viena numa noitada de jogo. Em São Petersburgo e em Nápoles, os grão-duques ou a rainha Maria Carolina dormiam em leitos enfeitados com atributos alternadamente romanos ou egípcios, lembrança das campanhas dos franceses. Eram esses personagens imitados pelos súditos, participantes da coqueluche de que estava impregnada a Missão Artística, feliz iniciativa do conde da Barca que vinha proporcionar aos artistas dela componentes a oportunidade de encontrarem remanso em suposto paraíso, depois dos sangrentos cataclismos do Velho Mundo.
A 26 de março de 1816 desembarcavam Lebreton e companheiros no Terreiro do Paço, recebidos com máximo carinho pelas régias autoridades. Afigurou-se até recepção festiva aos que comentaram o cuidado do governo em tudo facilitar e garantir aos missionários, atento aos mais ínfimos pormenores. Três casas