Jean-Baptiste Debret

o "desenraizamento" ocorrido com artistas franceses emigrados por ocasião do Edito de Nantes. Receavam amigos e parentes dos missionários que não se acostumassem à existência de além-mar, em ambiente tão diverso do parisiense. Boilly insistira com Taunay para que desistisse da viagem, e o mesmo se dera com os outros. Felizmente as encomendas de retratos da família real e da ornamentação da cidade nas festas das bodas do herdeiro da coroa, aclamação do monarca e mais incumbências desanuviaram qualquer dúvida ainda existente no seu ânimo.

Estipulara-se em França e se homologara no Rio que receberiam anualmente: Lebreton, chefe da expedição, um conto de réis; O secretário Pedro Dillon, Debret, N. A. Taunay, Simão Pradier, Grandjean de Montigny e Francisco Ovide cada um oitocentos mil-réis, equivalentes a cinco mil francos, tidos como exíguos pelos contratados. Atendeu-os o governo português com a promessa de lhes valer com encomendas várias antes e depois de receberem as de particulares, zelar no que fosse possível pelo bom desempenho do seu trabalho e continuar o vencimento em França transformado em pensão vitalícia após o prazo de seis anos que deveriam permanecer no Brasil. Convém notar no caso a lisura dos poderes públicos, solícitos em cumprir o contrato a despeito de tremendas dificuldades com que lutavam, recrescidas depois da volta da corte a Lisboa.

As festas cuja ornamentação recaíra em mor parte sobre os artistas da missão, tinham sido suspensas antes de chegarem, pelo luto da morte de D. Maria I. Foram, porém, iniciadas no ano seguinte, logo encarregado Grandjean de Montigny pelo conde da Barca de planejar o edifício da futura Academia. Interveio para mais o esclarecido ministro junto a Targini, tesoureiro-mor do reino, outro espírito acessível à alta cultura, a fim de que liberasse sem mais detença as quantias necessárias à construção. Debret, por sua vez, recebeu encomenda de retratos dos Príncipes, a começar pelo de D. João VI em trajes cesáreos, em que o soberano posava inicialmente, só como o rosto, completado o restante no atelier improvisado do artista em casa alugada por ele e pelo arquiteto. Uma aquarela do primeiro, pertencente ao acervo Castro Maia, representa a oficina com um manequim ao centro, revestido dos régios atributos, meio prático de atender a personagens ocupadíssimos, sem tempo a dedicar a retratistas, se bem o francês trabalhasse rápido, a modos de se emparelhar com o precursor Luca Fa Presto. Mereceu nessa quadra o Príncipe Herdeiro, desenvolto e elegante, jovem de boa aparência, bom tratamento do pintor,

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