No arco havia o dístico: Ao Libertador do Commercio, em que se encontrava consubstanciada a maior aspiração dos antigos súditos coloniais, satisfeita graças à imposição britânica acerca da abertura dos portos. No centro do largo ou Terreiro do Paço, como era conhecido no tempo dos vice-reis, encontrava-se ainda um obelisco, ornato muito em voga na época, reminiscência das praças romarias inspiradoras dos artistas segundo o classicismo.
À noite essas maravilhas eram profusamente iluminadas por lâmpadas de zinco e lustres de cristal, para maior admiração dos cariocas. Aproveitava a oportunidade o cônsul Maler em podar os missionários. Nada tinham de original, dizia, pois reeditavam simplesmente o que fora realizado em Paris para receber Luís XVIII, depois da queda de Napoleão. Mas, a despeito de sua má vontade - como se censurável fosse imitar o que se fizera em ocasião semelhante na Cidade Luz - o trabalho dos missionários viu-se altamente apreciado em todas as esferas e lhes proporcionou novas encomendas para as solenidades seguintes. Quis o Senado da Câmara a construção de monumental estádio de madeira no Campo de Santana, onde funcionaram os mesmos Grandjean de Montigny, Debret e Augusto Taunay. Compreendia vastas arquibancadas divididas ao meio por arco de triunfo, que servia de entrada, e, no oposto, por majestosa tribuna envidraçada e forrada de seda rósea com pinturas no teto a imitar jardins. Em toda parte notava-se profusão de esculturas, colunas, arcos e mais motivos decorativos à roda de 296 camarotes que ocupavam a primeira ordem. Destinava-se a espetáculos de circo, - dos quais um dos mais importantes fora empresado por súdito britânico, - alternado com touradas, cavalhadas, a fim de comemorar o natalício do Príncipe Herdeiro e o primeiro aniversário de seu casamento com a Arquiduquesa Leopoldina.
Nos trabalhos brilhou o escultor Augusto Taunay particularmente adestrado no mister. Expusera no Salon de 1810, em Paris, enorme e indigesta alegoria de caráter político, em que S. M. o imperador, sob a figura de Hércules, subjuga o crime e coloca a inocência sob a proteção do código Napoleão, a influir o classicismo na evocação dos grandes da terra, como também faria Canova ao representar o corso na figura de Apolo, que hoje se encontra em Milão no pátio do palácio de Brera. Realizava, em suma, na escultura, o mesmo que os pintores na tela, com idêntico afã de sublimar feitos enaltecedores das glórias do regime. Igualmente participava da dobadoura seu auxiliar nos trabalhos Grandjean de