Jean-Baptiste Debret

Antônio pela rua do mesmo nome, para alcançar, pouco além, o Campo de Santana. De volta pelo mar pelas ruas de São Joaquim e do Valongo, chegava à rua Direita, a mais larga e movimentada da cidade, onde se alinhavam armazéns de grandes importadores, importantes já no período anterior à independência promovida pela vinda da corte. Geralmente moravam em cima dos negócios, em casa de dois até três andares, abastecidas as famílias pelos lojistas da vizinha rua do Ouvidor.

Além do perímetro descrito, havia morros cobertos de mata, não raro fojo de escravos fugidos, extremamente perigosos. Durante muitos anos tornaram-se os quilombolas justificado terror das adjacências, resistentes aos antigos capitães do mato em tempos coloniais e à polícia da Regência e do começo do reinado de Pedro II. Na parte plana, entre os morros da periferia e a parte comercial, encontravam-se poucas habitações, geralmente entre capinzais, separadas por largos tratos de brejos, alimentados por inúmeros riachos que o intendente Fernandes Viana projetara canalizar. Dificuldades várias, principalmente decorrentes de inundações no verão e tradicional falta de verba, demoravam o melhoramento e, enquanto não vinha, serviam para os escravos neles atirar lixo e animais mortos.

Nas Reminiscências do barão de Taunay, filho de Nicolau Antônio, ocorre descrição da estrada que ligava o Rocio Pequeno à Quinta da Boa Vista. Sobre a linha do Aterrado, "uma lingueta de terra rodeada em todo o seu percurso de larguíssimos brejos marítimos", formava-se fila intérmina de gente que ia ao beija-mão. O espetáculo devia ser do mais alto pitoresco, de acordo com a geral improvisação da corte do Rio de Janeiro. A multidão empregava todos os meios a seu alcance para suprir o ritual em determinados dias do ano, em que muito convinha ser visto pela real família. Diz o autor: "alguns em seges, traquitanas e sociáveis, não poucos a cavalo ou montados em bestas e muitos a pé, levando suspensos meias, sapatos e borzeguins até o ribeirão do Maracanã, então copioso em águas, onde lavavam os pés empoeirados e se calçavam". A respeito do sítio, testemunha de tantos esforços para chegar às vistas do soberano, deixou o pai do barão paisagem desse curso, navegável até a baía, em que mostra barcaças de carga no ponto crítico do percurso dos cariocas, quando iam ao paço de São Cristóvão.

As igrejas eram o principal ornato da cidade. Constava haver mais de quarenta, incluídas - como se não bastassem - capelas

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