ou da sua raiz de sorte que são necessárias tantas árvores quantas cavernas; e como nem todas as árvores são jeitosas levam tempo a buscar pelos matos.
Também costumam para levantar mais os bordos da canoa, ou casco, acrescentar-lhe os bordos com uns taboões da largura v. g. de dous palmos, e do mesmo, ou alguma cousa mais de comprimento da canoa; e cada uma se faz também de sua árvore; outros sobre estes Taboões, a que chamam Falcas, ainda acrescentam outros Taboões do mesmo comprimento, mas mais estreito, a que chamam Talabardões; e cada um também pede uma árvore inteira e se lavram ou desbastam a golpes do machado; não custam menos as Bochechas, e Conchas com que lhes fazem e aformoseiam as Proas ao modo dos navios: enfim costumam chamar-se estas canoas inteiriças de um só Pau; mas na verdade, constam de muitos paus e de muitas árvores; é bem verdade que o casco principal, que aberto faz o feitio de meia casca de noz, é inteiro; e daí vem o chamar-lhes as canoas inteiriças de um só Pau. Esta é a substância do laborioso trabalho destas canoas, que bem se vê necessitam para se fazerem de muitas árvores, de muito trabalho, de muito tempo, e de muita gente. O que suposto.
CAPÍTULO II
DOS MUITOS INCONVENIENTES QUE TEM ESTA PRAXE DAS CANOAS
Ainda que sejam admiráveis as canoas inteiriças do Amazonas, por que na verdade causa admiração ver um casco de tal grandeza, que pode servir para um navio inteiro de um só pau; contudo ponderada bem as cousas, só tem muito de admiração, mas pouco de Conveniência; porque que importa, ser de um só pau o casco, se para