Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

Cbermont, (42)Nota do Autor o modo do fabrico das cordas de Guambê.

EXTRAÇÃO E PREPARAÇÃO DA MATÉRIA

"O Guambecêma se extrai dos Bosques na forma ordinária à toda a casta de Cipó; cortando-se-lhe o maior comprimento possível; e transportado ao lugar em que se deve fabricar a corda, despem-no da sua epiderme, cutícula, ou membrana externa, separando-a por uma incisão, da sua parte linhosa interna com muita facilidade, pela membrana celular estar sempre provida de uma Linfa mucosa, a qual se não deve secar, para se conservar mais apta, mais flexível, e mais fácil a torcer, porque passando a secar-se, fica linhosa, e tanto mais difícil a fabricar-se; e portanto menos boa a sua qualidade. Para evitar este inconveniente, e impedir de secar-se a mucilagem que facilita a mão de obra, à proporção que se vai descascando, se vai deitando de molho em água, aonde se conserva otimamente largo tempo sem padecer alteração alguma a sua boa consistência. O Guambé da melhor qualidade se tem experimentado ser aquele que não excede a sua perfeita madureza; que é quando tem perdido a cor verdoenga, e adquirido uma cor de castanho claro; porque está na sua melhor consistência, por nervoso, corriaço, e muito flexível, para se fazer muitos, e bons cabos; sendo que depois de muito