Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

a mesma barca; às vezes elas são feitas de tábuas com gosto e mesmo com luxo, providas de pequenas janelas envidraçadas, e com portas; outras têm somente a armação de madeira coberta de palha de coqueiro d'Indaiá ou Carnaúba, ou somente capim, e abertas sem porta. Tais toldas servem de residência ao proprietário da barca e de sua família, ou da pessoa que o substitui.

"As barcas em uso para a navegação entre Piranhas e o mar, isto é, na parte inferior das cachoeiras, têm a tolda na proa, contrariamente às barcas em uso na parte do rio superior às cachoeiras.

"O pessoal empregado no serviço das barcas depende da grandeza de suas dimensões; o número varia de 6 até 12 pessoas, para os remos ou varas, e mais 1 piloto; informaram-me que a barca Nossa Senhora da Conceição da Praia necessita 14.

"A grandeza dos remos das barcas corresponde à grandeza dessas embarcações, bem como a das varas. As últimas são ainda mais grossas do que aquelas que se usam no serviço dos ajoujos, e têm o comprimento de 30 a 35 palmos.

"Na parte do rio superior às cachoeiras de Paulo Affonso, raras vezes usam de velas, pelo motivo que alegam de fortíssimos vendavais que na maior parte das estações do ano sopram através do rio e com refegas extremamente violentas, pelos navegantes vulgarmente denominadas redemoinhos, ou pés de vento; de maneira que estes empurram as embarcações, rápida e facilmente, para fora do canal navegável contra os barrancos nas margens do rio, ou sobre os bancos d'areia; por outro lado estou persuadido que falta totalmente aos barqueiros a prática e aptidão no uso e manejo proveitoso de velas. Na parte baixa do rio, entre Piranhas e o mar, são as velas constantemente usadas, particularmente na subida, sendo admiravelmente