Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

ficam quase perdidos, quando ela fareja o vento e mete a cabeça. É o caso quase incrível de um desses monstros saltar fora d'água apresentando todo o corpo, e cair de um lado, o que lhe ensina o instinto para diminuir o efeito do choque na queda, e partir em direção contrária ao vento. Em tais circunstâncias será muito difícil que essa, ou essas lanchas, que a perseguem, a alcancem; e essa carreira só poderá aproveitar a baleeiros que estejam muito a barlavento.

Não menos difícil é o caso de encontrarem um pé queimado, que é como denominam o caxarréu valente, que se distingue por andar sempre com a galha de fora.

É tal a ligeireza e vivacidade, de que são dotados esses animais, que, se tivessem os olhos um pouco acima dos lugares em que os têm, podendo ver em roda um pouco acima de seu corpo, se tornaria dificílima ou até impossível sua pesca.

O seu corpo tem diversos lugares, em que não deve ser atirado o arpão, porque neles resvala, e entrando, acontece quebrar, o que sempre se dá da galha para a cauda. Assim logo que ela aparece em pequena distância da baleeira, é prova de habilidade do arpoador atirar o arpão no costado, da galha para a cabeça, sempre dos lados e no vão das costelas, que se distingue quando ela curva o corpo; pois tal não fazendo, perde a ocasião, e muitas vezes a baleia amedronta-se e foge; porém mais habilidade ainda é arpoá-la debaixo d'água, pelo vulto de cor avermelhada, que apresenta, a que eles chamam negror.

É um momento esse de grande perigo para o arpoador, e a prova é que já se tem dado caso dele desaparecer pelo efeito da rabanada da baleia, quase sem ser visto pela guarnição da baleeira, e até perecer toda ela, bem como arrancar a proa da lancha.