Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

"Voga, canoa, que é maré de amigo;

Ligeira voga, sem temor das ondas;

São braços fortes que aqui vão remando,

Braços tamoios, que a remar não cansam.

"Gosto de ver-te pelo mar singrando,

Cabeceando levantando espuma:

Assim, canoa, assim bufando voa,

Como esses peixes que lá vão fugindo.

"O mar está manso, estão dormindo os ventos;

Mas pra o Tamoio sempre o mar foi manso;

Eia, canoa! o teu balanço é doce

Como na terra o balancear da rede."

A respeito destas lutas assim se exprime Simão de Vasconcellos:

Com estes excessos continuavam furiosos os bárbaros Tamoios, o desagravo da injúria, que receberam no Rio de Janeiro. Cada dia cresciam os insultos; já não tratavam de assaltos somente senão que animados, e ajudados dos Franceses, que da fortaleza saíram rendidos às suas naus, tratavam de invadir a terra toda, e Capitania de S. Vicente, e fazê-la Província sua. Para este efeito fabricavam canoas de guerra de grandeza notável, destroncando as matas, naquela paragem imensa, viçosa, e que sobem as nuvens, e cavando aqueles corpos grossos, curados do sol, e dos anos, faziam embarcações fortíssimas, capazes as maiores de cento e cinquenta guerreiros, todos romeiros, e todos soldados, porque com o mesmo reino em punho de uma parte, e outra da canoa, sustentam o arco, e despedem a seta com destreza grande. E quando o pede o perigo, com o mesmo remo se escudam, porque era seu remar em pé, e tinham remos, uns como